Ano a ano, a Austrália vem se consolidando como um dos destinos mais procurados por estudantes. Essa busca faz sentido se forem considerados fatores como qualidade de vida, ambiente familiar, empregabilidade e boa remuneração, inclusão, perspectivas de carreiras e, principalmente, a alta qualidade do ensino. Essa somatória de vantagens faz com que, atualmente, o país seja o terceiro mais buscado no mundo para estudos.
Segundo ranking divulgado recentemente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Austrália é o melhor destino para os profissionais qualificados, com mestrado ou doutorado. O fácil acesso ao país é outro ponto positivo para instituições de ensino superior (IES) interessadas em estabelecer processos de cooperação internacionais. Deste modo, o Brasil tem se tornado forte colaborador em pesquisas, sendo atualmente o 16.º maior colaborador científico da Austrália.
O que se tem percebido nessas colaborações é que as políticas aplicadas no sistema educacional australiano podem inspirar positivamente o modelo brasileiro. Recentemente, em uma conferência de ex-alunos brasileiros no Instituto Mauá (SP), foram apresentadas duas alternativas praticadas por instituições de ensino australianas em parceria com o governo local. Enquanto uma permite acesso ao ensino a todos os indivíduos por meio de financiamento estudantil simples e desburocratizado, a outra sugere uma reformulação no método de ensino e aprendizado apoiada na internacionalização curricular.
Na Austrália, o conceito é que nenhuma instituição ou curso é gratuito; seja em faculdade pública ou privada, todos pagam para cursar
Existem diferenças e semelhanças consideráveis entre os sistemas de IES dos dois países. No Brasil, por exemplo, o ensino é gratuito em instituições públicas, sendo que toda a sociedade paga para que poucos estudantes, geralmente com maior renda familiar, tenham o benefício por terem tido a oportunidade de estudar em colégios particulares com mais qualidade de ensino. Por outro lado, o programa de crédito estudantil do governo, o Fies, é voltado a estudantes de famílias de baixa renda que ingressam em universidades privadas, porém, com limite de vagas e processo seletivo que usa a nota do Enem para classificar os candidatos. Parte dos estudos é paga durante o curso (o valor varia de acordo com o porcentual da bolsa), enquanto o restante é pago após a formatura. Com a regra modificada desde 2018, o estudante tem a parcela da dívida descontada automaticamente do salário, assim que consegue emprego.
Na Austrália, o conceito é que nenhuma instituição ou curso é gratuito; seja em faculdade pública ou privada, todos pagam para cursar. No entanto, a principal diferença é que todas as classes sociais têm acesso ao financiamento, estimulando um formato mais sustentável e acessível, que só é pago quando o aluno começa a trabalhar – ele precisa atingir uma renda mínima anual de 51 mil dólares australianos (equivalentes a R$ 140 mil), quando passa a contribuir com 4% de seu salário para quitar a dívida, podendo chegar ao teto de 8% conforme o crescimento de seu rendimento. Em vigor desde o fim dos anos 1980, o modelo teve um crescimento de 118% em alunos matriculados no ensino superior até 2015, sendo que, neste período, o fundo de financiamento cresceu 71%.
Além disso, o Ministério da Educação australiano estabelece normas nacionais de competências, a partir dos quais as universidades desenvolvem seus currículos. Quem avalia se a IES é qualificada são os empregadores, a sociedade e o estudantes. Ou seja, a relevância da instituição é valorizada por meio da reputação social e seu impacto na sociedade.
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Na prática, o currículo internacionalizado reconhece que os alunos têm papéis e responsabilidades sociais, culturais e econômicas, além de habilidades e conhecimentos internacionais e interculturais capazes de conscientizá-los para conectarem-se positivamente com outras pessoas. Este preparo capacita os estudantes a viverem e trabalharem em uma sociedade global, e ainda os ajuda a ter experiências práticas das profissões do futuro, que aumentam a empregabilidade por meio dos ensinos superior, profissional e técnico. A avaliação desses estudantes é baseada neste conceito.
O Brasil pode se espelhar no modelo australiano, a começar pela transformação do método atual de avaliação dos alunos, que estudam semestralmente ou anualmente para terem aprovação por meio de uma prova escrita. Desta forma, eles são obrigados a terem os mesmos ensinamentos, sendo que nem sempre a aptidão de alguém por matérias e profissões ligadas a exatas de alguns é a mesma que a de alunos que preferem algo voltado a línguas.
Por fim, para que a educação e qualificação brasileira tenha avanços significativos, é necessário criar um caminho que estimule a inovação, aumente a qualidade das pesquisas nas IES e melhore a aprendizagem. Isso traria mais competitividade nas universidades e ajudaria a aumentar a empregabilidade.
Mathew Johnston é conselheiro da Educação e Ciência da Embaixada da Austrália no Brasil.