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Como a Rússia e Cuba podem acabar com a catástrofe venezuelana

O presidente russo, Vladimir Putin, encontra-se com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, em Sochi (14 de maio de 2019). (Foto: Alexander Nemenov/AFP)

A tentativa fracassada de um levante militar na Venezuela, em 30 de abril, foi o capítulo mais recente da lenta marcha do país rumo à catástrofe. Agora, a situação ganhou implicações internacionais mais amplas, que vão muito além da região.

E a Rússia se tornou um dos personagens principais nesse drama. A Venezuela estava no topo da pauta do secretário de Estado, Mike Pompeo, quando este falou com o colega russo pela primeira vez em Moscou, em março, quando se encontraram em Helsinque no início deste mês e novamente esta semana, em Sochi. Trump discutiu a situação venezuelana com Vladimir Putin no dia 3 de maio, mas nada parece ter resultado dessas conversas. Claro está, porém, que há diferenças brutais entre os dois governos e uma percepção cada vez maior por parte dos russos do quanto Washington se preocupa com a questão.

No mês passado, a Rússia enviou cerca de cem representantes de empresas militares particulares terceirizadas a Caracas, que continuam a vender armas ao governo de Nicolás Maduro e a defendê-lo na ONU. Seus amigos em Cuba estão à espreita há anos e agora ocupam um papel mais decisivo, provavelmente encorajados pelos russos.

O presidente norte-americano deve continuar a pressionar Cuba, tentando convencê-la a se unir a seus esforços de derrubar Maduro

O governo norte-americano faz bem em se relacionar com os cubanos, já que busca solucionar o impasse político na Venezuela – mas um passo em falso de seus representantes poderia abrir caminho para uma participação russa mais decisiva.

O que Trump realmente quer com a Rússia, Cuba e a Venezuela? Marco Rubio, senador republicano pela Flórida, talvez prefira se esquecer dos latino-americanos e se concentrar em derrubar o regime de Raúl Castro, líder do Partido Comunista; já o presidente talvez se preocupe apenas em ganhar na Flórida em 2020, onde os votos cubanos e venezuelanos podem ser cruciais para essa vitória.

A administração deve continuar pressionando Cuba o máximo possível, para então sugerir a Moscou e Havana que pode afrouxar os parafusos se o presidente cubano Miguel Díaz-Canel e Castro ajudarem a resolver a crise venezuelana – e os cubanos talvez não tenham muita opção, principalmente se a Rússia for convencida a fazer o mesmo.

Pela primeira vez desde que o Artigo 3.º do Ato Helms-Burton foi promulgado, em 1996, os EUA estão permitindo que cidadãos norte-americanos briguem por indenização das propriedades confiscadas pelo governo de Fidel Castro nos tribunais federais – e, embora seja pouco provável reaver seus bens em um futuro próximo, investidores norte-americanos, europeus, canadenses e latino-americanos em Cuba que usarem esses imóveis também podem ser processados ou ter seus vistos para os EUA revogados. Já há ações judiciais correndo contra a Carnival Cruise Lines e duas empresas de hotelaria espanholas.

Trump também aumentou as restrições de viagem para seus conterrâneos que quiserem ir a Cuba e limitou o valor das remessas a US$ 1 mil por pessoa, por trimestre. No geral, essas medidas afetarão a situação econômica já adversa que o país enfrenta, com a redução dos carregamentos de petróleo oriundos da Venezuela, uma queda drástica no turismo norte-americano e a desaceleração geral no investimento estrangeiro.

Em abril, Castro já avisara das dificuldades econômicas que estavam por vir. Sua garantia de que a ilha não viveria um novo "período especial", como aconteceu quando a União Soviética desabou, em 1991, não tranquilizou ninguém. Na linguagem castrina, quando se diz que algo não acontecerá, é bem provável que ocorra. A ilha produz muito pouco e tem pouca verba para gastar com importação. Até a semana passada, por exemplo, os ovos e a carne de frango e de porco estavam sendo racionados, e o país luta para lidar com a escassez de itens básicos. A persistir a situação, o regime pode enfrentar protestos de verdade pela primeira vez desde o fim da URSS, há 28 anos. A Rússia talvez prefira concentrar seus esforços para salvar Cuba, em vez de se concentrar na ilha e na Venezuela simultaneamente.

Geralmente, citam-se três razões para explicar o envolvimento russo, cada vez maior, com a Venezuela, sendo a primeira proteger e, quem sabe, um dia recuperar os mais de US$ 60 bilhões que diferentes entidades do país latino-americano devem a seus bancos e empresas. Um governo pós-Maduro pode não reconhecer essas dívidas, já que muitas não foram aprovadas pela Assembleia Nacional.

Segunda: Putin está agindo como um verdadeiro estorvo aos EUA, enfiando o nariz no quintal dos norte-americanos, em uma reação tipo "toma-lá-dá-cá" ao que Moscou considera interferência da Otan nas questões da Europa Oriental.

Terceira, e talvez mais importante: a Rússia espera projetar poder em uma região que o governo dos EUA considera esfera de influência própria. Ela já mantém laços estreitos com Havana há 60 anos, desde os tempos em que Nikita Khrushchev era o líder soviético – e, ao oferecer financiamentos a Argentina, Bolívia e Equador, Putin está tentando expandir seu domínio na região.

Washington tem uma boa cartada, mas deve agir com cuidado. Se, de fato, Trump quiser se dar bem com ambos os governos, cubano e venezuelano, ou se realmente desejar mudar o regime só em Cuba, as chances de fracasso são grandes, e ele invariavelmente vai irritar os parceiros democráticos do país na América Latina e na Europa. Com exceção da Nicarágua, Bolívia, Uruguai e México, a região quer Maduro fora do poder, mas não vai apoiar Trump em qualquer tentativa sua de derrubar a ditadura cubana.

Em vez disso, o presidente norte-americano deve continuar a pressionar a ilha, tentando convencê-la a se unir a seus esforços de derrubar Maduro. O país pode ter um papel essencial na questão se lhe oferecer um porto seguro e a participação nos arranjos que garantiriam uma transição democrática, libertando todos os prisioneiros políticos e permitindo que todos os líderes da oposição disputem eleições livres, justas e supervisionadas internacionalmente, restabelecendo a liberdade de imprensa e o engajamento, reduzindo sua pegada na Venezuela gradual e pacificamente. Trump deve convencer a Rússia a persuadir os cubanos a fazê-lo – e se lembrar de que, no fim das contas, não há uma abordagem de recompensas e punições sem algo por que valha a pena brigar.

Jorge G. Castañeda, ministro das Relações Exteriores do México de 2000 a 2003, é professor da Universidade de Nova York e autor de "Utopia Unarmed: The Latin American Left After the Cold War".

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