| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

Um dos momentos mais desafiadores na carreira de uma mulher que se torna mãe é o retorno após a licença-maternidade. Voltar ao trabalho depois de alguns meses totalmente focada em seu bebê é muito difícil para a maioria delas. Por isso, é tão importante que as empresas estimulem um período de adaptação saudável, tanto para que a mãe se acostume à sua nova rotina em casa quanto para que ela se reintegre às suas atividades no trabalho.

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No entanto, nem todas as empresas têm empatia para lidar com esse momento tão delicado, no qual as questões emocionais e até hormonais estão envolvidas. Tanto é que o número de mulheres que são demitidas assim que voltam da licença-maternidade é enorme. Segundo dados de uma pesquisa da FGV, 51% das mulheres não permanecem no mercado de trabalho num período de 12 meses após a volta da licença. A maioria destas demissões ocorre por parte do empregador, que entende que a mulher será menos produtiva, colocando o filho em primeiro lugar. O mais preocupante é que essa mesma pesquisa revela que, no caso dos homens que se tornam pais, o comportamento é oposto: 92% dos homens com filhos de até um ano continuam atuando no mercado de trabalho.

Outro ponto de atenção é que, no caso dos jovens pais, é comum observarmos casos de promoções, aumentos salariais e outros incentivos, visto que os gastos e as atividades de um pai de família aumentam consideravelmente. Contudo, se os homens são reconhecidos após a paternidade, por que também não vemos com frequência essa mentalidade ser aplicada às mulheres?

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As empresas que valorizam as mulheres nesse momento tendem a se destacar

Essa é uma questão que tem de ser repensada. Grande parte das mulheres volta ao trabalho com muito mais garra para trabalhar, pois elas agora têm uma responsabilidade que antes não tinham. O filho passa a ser um novo estímulo para o seu desempenho profissional.

Há, sim, um período de adaptação, no qual a empresa e os colegas precisam ser compreensivos. É preciso respeitar o horário de amamentação previsto no artigo 396 da CLT, que garante dois intervalos de meia hora até o bebê completar seis meses de idade; as empresas também devem ser mais compreensivas com as ausências decorrentes de consultas médicas ou pequenos contratempos típicos de qualquer recém-nascido.

Algumas grandes companhias dispõem de uma sala de amamentação ou até mesmo de creches. Quando isso não for possível, é necessário estimular a compreensão por parte de todos os membros de uma equipe que inclui uma mulher que recentemente se tornou mãe. É preciso entender que, muitas vezes, o bebê não dorme bem durante a noite, fazendo com que ela possa atravessar períodos de queda de produtividade. Estimular a solidariedade é imprescindível para que a mãe se sinta acolhida.

Outra opção muito apreciada é o estímulo a uma jornada de trabalho com horários flexíveis, além do home office, que amplia o contato entre mãe e filho. Nesse ponto, cabe destacar que a profissional deve ser avaliada pela sua capacidade de entrega e não necessariamente pelo número de horas que passa dentro do escritório.

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Vivenciei de perto essa experiência com minha esposa. A empresa em que ela trabalhava não garantiu as condições necessárias nesse período e ela acabou partindo para outra oportunidade, na qual encontrou tudo de que precisava para manter um perfeito equilíbrio e harmonia entre a vida pessoal e profissional.

As empresas que valorizam as mulheres nesse momento tendem a se destacar, principalmente porque essa fase de adaptação da mulher é muito curta em vista do tempo em que se espera que ela permaneça na empresa, que gira em torno de cinco a dez anos.

Quem tem consciência para enfrentar essa etapa, demonstrando acolhimento à mãe e às necessidades de seu filho, tende a contar com uma profissional capaz de gerar ótimos resultados no futuro. Quem investe nelas não costuma se arrepender; afinal, é sempre bom lembrarmos que o futuro da sucessão das empresas, da população economicamente ativa e da força de trabalho depende da escolha dessas mulheres de quererem se tornar mães e de serem respeitadas e valorizadas por essa escolha.

Marcelo Olivieri, bacharel em Psicologia com MBA em Gestão Estratégica, é headhunter diretor da Trend Recruitment.