O presidente Donald Trump em evento de campanha dos candidatos ao Senado na Geórgia, Kelly Loeffler e David Perdue, em Dalton, 4 de janeiro| Foto: MANDEL NGAN / AFP
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É possível que o leitor nunca tenha refletido a fundo sobre qual a relação entre o sistema político e o sistema econômico de seu país. Quando falamos de capitalismo e democracia, um equilíbrio entre eles é de suma importância para o desenvolvimento social. Para o bom funcionamento do capitalismo é essencial a presença de um forte sistema democrático.

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Mesmo em uma democracia, a presença desproporcional a favor do capitalismo nos leva a uma plutocracia, sistema dominado pelos mais ricos e com consequências negativas para a maioria da população. Por outro lado, temos um regime populista quando o mesmo sistema político impede o desenvolvimento do capitalismo saudável.

A famosa expressão “checks and balances” define bem uma interação positiva entre o capitalismo e a democracia. Os dois sistemas apresentam defeitos, mas são chaves para o desenvolvimento econômico de uma sociedade que preza o livre arbítrio.

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O capitalismo traz, sim, o favorecimento de alguns; isso faz parte da liberdade de escolha. A motivação pessoal é essencial para uma economia produtiva. A democracia, por sua vez, atenua as desigualdades. O poder de decisão eleitoral é o mesmo para cada cidadão. Se a maioria está menos favorecida, ela tem peso suficiente para escolher outro governante e/ou legislador. Foi a democracia que elegeu Bolsonaro em 2018. É exatamente a falta desta que atinge a vida de nossos vizinhos venezuelanos.

Luigi Zingalez, professor da Universidade de Chicago, apresenta uma definição para democracia muito interessante. Segundo ele, a maneira de se formar um sistema que seja extremamente difícil de alterar é fazer com que todos sejam juízes deste. Em certo ponto, democracia é exatamente isto: se todo mundo está envolvido, é muito caro e complexo corromper a todos.

Os mesmos autores do conhecido livro Why nations fail lançaram, há pouco tempo, um livro chamado The narrow corridor. Ele traz uma análise entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos e como uma interação equilibrada entre sociedade e Estado é essencial ao futuro de uma nação.

Donald Trump, que não representa nenhuma ideologia ou partido político, a não ser o seu próprio, esquece que foi a pura democracia que o elegeu em 2016, um outsider sem relações políticas e sobre o qual muitos diziam que “um cara assim nunca será eleito”. A democracia lhe deu uma chance. E o próprio sistema lhe negou a reeleição para a Casa Branca.

João André Sarolli é mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Chicago.

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