Presidente Luiz Inácio Lula da Silva: ações do governo trazem insegurança ao mercado de trabalho.| Foto: EFE/ André Borges
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Diariamente, somos impactados por notícias de empresas brasileiras anunciando cortes em seus quadros de funcionários e a crise não se limita apenas ao segmento de tecnologia. Companhias de automóveis, varejo, comunicação, viagem e do setor financeiro também vivem esse cenário. O CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgou recentemente dados que só comprovam a desaceleração. O saldo de apenas 83 mil vagas em janeiro foi o menor dos últimos 12 meses e ainda está longe de compensar o saldo negativo de dezembro, de 431 mil pessoas na rua.

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Por mais que alguns queiram apontar a causa disso como sendo reflexos da recessão global, causada pela Covid-19 e pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a verdade é que o resultado anunciado após as últimas eleições trouxe muitas incertezas e mudou a rota de desenvolvimento positivo que o Brasil vinha tendo. No governo anterior, o desemprego, por exemplo, foi o menor em 7 anos (8,1%) e chegamos perto de atingir o pleno emprego (quando a taxa é de 6%), segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o melhor resultado entre os países do G20 – que engloba as economias mais ricas e desenvolvidas do mundo.

O país só vai voltar à rota de geração consistente de emprego se a sociedade civil, empresários, senadores e deputados pressionarem o governo.

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Para além das demissões em massa que estão ocorrendo, são milhares de contratações e novas posições que também deixam de existir. Os investimentos que seriam feitos por empresas e pessoas, deixam de acontecer por conta da extrema insegurança jurídica, política e econômica causada pelo governo que assumiu o comando do país. Mesmo em pouco tempo, o novo governo já deu um spoiler do que está por vir. A tentativa de interferir na autonomia do Banco Central, o estouro do teto de gastos, as possibilidades de retomada do imposto sindical e algumas falas, como sobre substituir o Uber pelos Correios ou a criação de uma moeda única com a Argentina, têm gerado absoluta insegurança nas pessoas, empresas e investidores.

O aumento exponencial do desemprego já no início do ano mostra que estamos vivendo tempos difíceis, e por escolha da população. O tamanho do rombo causado no mercado de trabalho no Brasil está diretamente relacionado com termos começado o ano literalmente com o pé esquerdo.

Sabemos que o desemprego tem efeito cascata. São pessoas com menos poder de compra, que deixam de consumir, estudar e investir. Com a demanda se retraindo, as empresas também passarão a produzir menos e buscarão cortar custos. Isso impacta todos os profissionais, especialmente os mais operacionais. Se a demanda diminui e o trabalho é operacional, o resultado é o corte de pessoas. Se existe a possibilidade de automatizar o atendimento ou a produção, por exemplo, se cortam pessoas. Para quem está iniciando a carreira também é uma notícia desanimadora. As vagas já concorridas se tornarão ainda mais disputadas.

Cabe a nós fazer com que frases como “no Brasil, até o passado é incerto”, de Pedro Malan, ex-ministro da economia, passem a ser história e não mais realidade.

Já para cargos mais qualificados existem algumas outras óticas. Primeiro que, em caso de corte, a recolocação é mais fácil ou provável, justamente pela qualificação. E segundo que a mão de obra qualificada faz coisas complexas e, por isso, pode ser alocada para outras demandas, uma vez que o custo de demissão, treinamento e adaptação de uma nova mão de obra é mais caro do que alocar essa mão de obra que já se tem na empresa, por isso, só será cortada se realmente houver necessidade. Em conversas com diversos líderes de recursos humanos de grandes empresas, a estratégia também tem seguido essa lógica: não fazer reposições, contratando apenas o necessário e segurar a aprovação de novas vagas.

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Em momentos de incertezas, é normal pensarmos que as empresas irão reduzir custos e postergar contratações e investimentos, no entanto, isso necessariamente não  acontece sempre. A empresa vai contratar quem ela precisar contratar, mesmo em tempos de crises. Com sobra de profissionais, ela poderá ser mais exigente nas contratações, conseguindo pessoas com mais experiência e bagagem que passaram a estar disponíveis no mercado, mas não significa que uma posição de vaga júnior, por exemplo, vai necessariamente passar a exigir mais experiência ou pagar menos, até porque existe uma política interna de cargos e salários que precisa ser respeitada.

A receita do governo atual para gerar emprego parte da premissa de investimentos em obras públicas e redução da Selic para estimular o consumo – medidas de curto prazo que já causaram estrago no passado e não devem ser diferentes agora. É uma receita que sabidamente não se sustenta. O governo deixa de lado o que efetivamente gera emprego: reforma tributária, desoneração da folha, menos intervenção do estado e políticas liberais para a economia.

O país só vai voltar à rota de geração consistente de emprego se a sociedade civil, empresários, senadores e deputados pressionarem o governo, impedindo que medidas que não deram certo no Brasil dos governos anteriores de Lula e Dilma sejam novamente aplicadas, adotando uma pauta de interesse nacional que trate com seriedade da reforma tributária, respeito ao teto de gastos, combate à corrupção e aumento da segurança jurídica.

Cabe a nós fazer com que frases como “no Brasil, até o passado é incerto”, de Pedro Malan, ex-ministro da economia, e “o Brasil não é um país sério”, de Charles de Gaulle, ex general e presidente francês, passem a ser história e não mais realidade.

Tiago Mavichian, graduado em Administração e pós-graduado em Gestão de Pessoas, é CEO e fundador da Companhia de Estágios.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]