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A despeito das realizações relativamente grandes do homem, ele é na realidade uma parte muito pequena no colossal esquema da natureza. Justificamos, assim, o porquê de as “grandes cabeças”, após incontáveis contribuições nos campos científicos, através de observações, pesquisas e conhecimento, revestirem-se de humildade. Fato positivo, porque a humildade ajuda a pessoa a compreender seu próprio lugar num plano maior; pois num sentido mais elevado é a reverência ou espanto na presença do universo. Evidentemente, a verdadeira humildade ou reverência é imperiosa para a mais criadora confiança em si próprio. Essa humildade de espírito não deve ser confundida com a falta de confiança, retraimento ou medo, mas sim como a base do respeito pelas outras pessoas e suas diversas capacidades. As insignes figuras humanitárias da história, como Albert Einstein, Helen Keller, Sócrates, Mahatma Gandhi e Jesus Cristo, tiveram a força incomparável da humildade genuína, explícita para com o respeito, valor e dignidade dos seres humanos.

Contudo, é lastimável a atitude de nossa elite intelectual, com raríssimas exceções. Julgam-se celebridades acadêmicas, intocáveis, à busca de reverência em toda parte, cujos discursos excitados são frequentes. Não participam da realidade social para a mudança, usufruindo de privilégios peculiares à sua classe, em que o fator econômico predomina. Denotam postura de cientistas arrogantes, insubmissos à avaliação, o que facilita a impunidade e o descompromisso social. Como consequência, permanecem à sombra de outras elites que denotam ação e decisão em favor das comunidades necessitadas.

Daí ser imprescindível a formação superior encaminhar-se para a utilidade social, ou seja: a elevação da produtividade nacional, interligada à industrialização e, consequentemente ao mercado de trabalho e fixação do homem na zona rural; a equipes multidisciplinares nas instituições escolares; ao transporte coletivo, habitações populares e ferrovias etc. Recursos como a simulação de sistemas produzem excelentes resultados, pela oportunidade de serem vivenciadas situações ou peculiaridades profissionais. No que diz respeito ao transporte ferroviário, por exemplo, ele seria incrementado, projetando-se itinerários como linhas férreas direcionadas às áreas industriais pelas periferias. Com isso, seriam eliminados os veículos de cargas pesadas das estradas e dos centros das cidades, reduzindo-se, evidentemente, o número crescente de acidentes fatais.

É imprescindível que a formação superior se encaminhe para a utilidade social

Em nossa vida profissional, nos cursos de pós-gradução do Instituto de Educação do Paraná, lecionando a disciplina de Higiene Mental, simulamos situações por meio de um Gabinete de Higiene Mental composto por psicólogo, assistente social e orientador, integrado à Associação de Pais e Mestres, e encaminhamento médico nas instituições escolares do ensino fundamental, com excelentes resultados, acrescidos da consciência sobre a validade do mesmo. É o princípio do “saber e mudar”, da aplicação do conhecimento, resultando na contribuição do acadêmico através de projetos próprios, explícitos, de vida e profissão, desenvolvidos em ambientes de discussão pluralista. É incontestável: ideias brilhantes, mas isoladas, não têm nenhum valor do ponto de vista social.

Assim procedendo, cultivamos qualidade política, questionando a ciência como parte do projeto da sociedade, sob a conscientização da necessidade de submetê-la à avaliação, recurso imprescindível. Eis aí a estratégia contra o “analfabeto político”, cuja preocupação precípua é a autopromoção, reflexo do desconhecimento da problemática social. É indiscutível: só gostamos daquilo que conhecemos! Inegavelmente, esta lamentável situação corresponde à mais séria lacuna do processo educacional: ausência de orientação vocacional. Pois, se o educando é orientado vocacionalmente, será conduzido a ser o “bom profissional”, no qual eclodirá a preocupação com os problemas sociais.

Reside nisso a incoerência dos atuais “cursos para política”, comumente com vinculações partidárias ou preocupações alheias aos problemas específicos da sociedade. O bom vocacionado profissional ou técnico, verdadeiramente conhecedor da problemática social, é indispensável. Essa é a razão dos frequentes conflitos entre os técnicos e os politiqueiros, em temas como infraestrutura, educação, habitação, agroindústria etc.

Por conseguinte, uma pós-graduação para políticos seria o ideal: um curso compulsório para todo candidato a cargos eletivos ou de responsabilidade administrativa na atuação política. Há mais de 20 anos que insistimos nessa ideia, através de artigos publicados em jornais, revistas pedagógicas, congressos, cursos de especializações psicossociais, em debates com alunos ou através de livros editados. Com a duração de dois anos, o curso que sugerimos, além da fundamentação teórica exigida, seria um plenário de profissionais ou técnicos idealistas, consequentemente criativos, tendo por objetivo apresentar e discutir seus ideais e projetos, anteriores às possíveis eleições.

Somente assim a sociedade deixaria de ser cobaia nas mãos dos politiqueiros. Teríamos os geniais e insignes profissionais políticos, competentes, interessados e pragmáticos, como nas demais áreas profissionais, e uma sociedade conduzida a uma melhor condição de vida, com destino à emancipação social.

Deusdith Laval Malucelli é pedagoga pela UFPR e concursada em psicologia.
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