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Como devemos receber e lidar com as pesquisas eleitorais

urna eletronica
Urna eletrônica. (Foto: ASICS/TSE)

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Durante as últimas semanas fomos bombardeados com resultados de pesquisas eleitorais. Essa proliferação pode suscitar múltiplas sensações. Há uma dimensão caracterizada pelo excesso de informações, o qual levanta outro ponto: como lidar com as diferentes informações que recebemos? Há ainda o grupo de pessoas que duvida da validade de pesquisas, afinal de contas “eu nunca fui entrevistado, ninguém que conheço foi, como posso acreditar?”; por fim, há o grupo que duvida da seriedade dos institutos de pesquisa, associando-os ao grupo de instituições políticas que devem ser varridas do mapa.

No início de maio organizamos um evento sobre pesquisas eleitorais, o qual contou com profissionais com experiência acumulada na elaboração de pesquisas e acompanhamento de eleições. Alguns pontos destacados podem ajudar em uma melhor compreensão sobre os alcances e limites dessas pesquisas.

Em primeiro lugar, cabe destacar que a função das pesquisas é revelar apenas um retrato do momento político, não do resultado de uma eleição. No entanto, é comum ocorrer extrapolação, isto é, a utilização do diagnóstico da conjuntura política para elaboração de um prognóstico do resultado eleitoral. Por exemplo, os números de diferentes pesquisas indicam que o momento político é mais favorável à candidatura de oposição. Contudo, esse é retrato político de maio; o primeiro turno das eleições será apenas em outubro.

Em segundo lugar, a elaboração de pesquisas é um trabalho sério, realizado por instituições e pessoas que possuem reputações a zelar. Deve-se lembrar ainda a necessidade registro das pesquisas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que implica na divulgação de informações relativas a custos, financiadores, procedimentos de construção da amostra, técnica de entrevistas, entre outras informação. Ou seja, realização de pesquisas demandam transparência, postura que não é necessária na realização de enquetes populares em mídia sociais, por exemplo.

A construção das amostras permite análise crítica, porém, esta deve ser feita a partir de avaliação técnica. A amostragem depende de base de dados nacionais, como os disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua (PNAD), que tem atualização trimestral. Todavia, cabe o primeiro reparo, pois a PNAD cobre municípios próximos a capitais ou ligados às regiões metropolitanas. Logo, municípios com populações menores e mais afastados não estão contidos nas amostras, e por consequência essa base de dados cria um viés populacional para amostras de pesquisas eleitorais. Esse viés pode ser diminuído? Sim, com a utilização de dados censitários, porém nosso último censo foi em 2010.

Ainda no tema amostragem, a defasagem dos dados pode comprometer os procedimentos amostrais probabilísticos e não probabilísticos. No procedimento probabilístico, a inadequação dos dados pode alterar a seleção de municípios para aplicação de pesquisa. Enquanto no procedimento não probabilístico a seleção de municípios ponderada por gênero, idade, escolaridade e setor de atividade econômica pode ser inadequada.

Em síntese, a base de dados utilizada como referência na amostra pode criar vieses, independente do trabalho dos institutos de pesquisa. No entanto, eles são menores se comparados aos procedimentos de enquetes e a simples observação do “entorno”.

Por fim, outro ponto que suscita avaliação crítica diz respeito à forma de entrevista. Pesquisas com entrevistas feitas pessoalmente – pesquisa em domicílio ou em ponto de fluxo – são mais caras, porém, tendem a ser mais assertivas na captação de respostas, em especial junto a públicos dos extratos inferiores de renda. As pesquisas através de contato telefônico são mais baratas, porém, têm mais dificuldade de captar de forma assertiva respostas junto ao público de baixa renda e menor escolaridade. Isso acontece de forma ainda mais evidente quando as pesquisas telefônicas são feitas por robôs. Com o advento da pandemia, houve uma ampliação das pesquisas eleitorais realizadas por telefone. Assim, cabe destacar que há possibilidade de os retratos eleitorais desfocarem a parcela relativa ao público de baixa renda.

As pesquisas nos ofertam um pedaço estruturado de um quebra-cabeça, para o qual a imagem final ainda não é revelada. Há grupos que não gostam da imagem parcial e desejam desmontar tudo e tentar construir algo diferente do zero. Mas cabe lembrar que estamos diante de um pedaço de imagem, que pode explicar o retrato final, ser uma miniatura da imagem completa, ou ser um fragmento completamente distinto.

Os institutos de pesquisa e o TSE podem difundir informações sobre os alcances e limites de pesquisas, academia, imprensa e atores políticos partidários também. Em síntese, diante de pesquisas oficiais recordemos sempre duas palavras: momento e prudência.

Fábio Pereira de Andrade, doutor em Administração Pública e Governo e mestre em Economia, é professor de Relações Internacionais na ESPM.

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