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O centro das atividades do observador do clima econômico exprime a pertinente avaliação do sinal e da intensidade dos indicadores correntes e antecedentes, em determinados momentos contraditórios, sustentados no estoque e no fluxo de conhecimentos oferecidos pelos princípios fundamentais da ciência.

A superação da recessão mundial contratada a partir da derrocada dos preços das ações das empresas de tecnologia de ponta, verificada nos EUA no final de 2000 e começo de 2001, forçou os bancos centrais das principais áreas monetárias do planeta (dólar, euro e iene) a promoverem expressiva redução nas taxas básicas de juros no intervalo de tempo compreendido entre 2001 e 2004, que encolheram de 5% ao ano para 1% a.a. Tal postura abriu espaço para o delineamento do maior ciclo ininterrupto de crescimento da economia internacional das últimas quatro décadas, ancorado na combinação entre os déficits gêmeos (fiscal e em transações correntes) dos EUA e os superávits comerciais contabilizados pelas nações emergentes.

O desequilíbrio das contas públicas e externo da maior economia do planeta acumula US$ 7 trilhões, superior à agregação de sua capacidade de poupança ao acréscimo de produtividade do seu aparelho industrial. Especificamente, o equilíbrio fiscal produzido na gestão Clinton deu lugar a uma estratégia anticíclica, ancorada na impulsão dos gastos em Defesa feitos pelos EUA, cobertos prioritariamente pela emissão de papéis do tesouro e empresas, por dívidas contraídas pelas famílias norte-americanas, pelo incremento da oferta monetária e pela comercialização de ativos tangíveis.

A par disso, registrou-se pronunciada valorização imobiliária naquele país, amparada na elevação da oferta de construções e dos preços dos imóveis, e o desencadeamento de transações de financiamentos habitacionais, e do respectivo lançamento de hipotecas consideradas de expressivo risco, conhecidas como "subprime". Essas hipotecas são desprovidas de garantias formais e oferecidas a clientes com histórico de calote de dívidas e/ou com flagrantes restrições orçamentárias para a quitação potencial de passivos.

As hipotecas em atraso superariam os US$ 212 bilhões para uma dívida imobiliária ao redor de US$ 10 trilhões nos EUA. Ademais, de acordo com estimativas da Associação de Bancos de Hipotecas dos EUA, os patamares de inadimplência no mercado imobiliário cresceram 0,5% nos últimos doze meses encerrados em julho e 2,3% na categoria "subprime".

As transações hipotecárias foram hospedadas em fundos de investimentos de apreciável rendimento, quando comparado com as modalidades de risco convencionais, e sustentadas pela atuação de mais de 10 mil instituições, agressivas no mercado de securitização (separação entre concessão da hipoteca e risco) e/ou derivativos, representando uma espécie de antídoto contra a inadimplência.

No fundo, esse tipo de funcionamento de fração do mercado financeiro retratou a alocação de excedentes gerados em moedas tradicionais – como o iene – em ativos mais rentáveis e arriscados – como o real. Isso ocorreu em um ambiente de abundância e de reduzido preço dos capitais, viabilizado por uma engenharia monetária que permite a formação de lastros para apostas em diferentes opções de aplicações – ações, moedas conversíveis, commodities, imóveis e papéis das dívidas pública e privada.

O movimento prosseguiu, inclusive, na contramão das rodadas de majorações dos juros praticadas pelos bancos centrais no exercício de 2005, ignorando os sinais de retração das aquisições de residências nos EUA e da subseqüente ampliação da inadimplência das famílias, dos saques nos recursos dos fundos e da insolvência localizada de alguns intermediários financeiros.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do curso de Ciências Econômicas da UNIFAE – Centro Universitário Franciscano do Paraná – FAE Business School.

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