Pesquisas indicam que 70% dos apostadores que ganharam fortunas em prêmios de loterias perderam tudo em poucos anos. Na maioria dos casos, as pessoas caem na mesma cilada: acreditam que o dinheiro vai durar para sempre e que todos os seus desejos e de seus familiares poderão ser conquistados. Para o dinheiro durar para sempre, há apenas uma saída: gastar apenas o rendimento real, acima da inflação.
Na última Mega da Virada houve 17 vencedores, e cada um deles ficou com R$ 18 milhões. Muito dinheiro, não é? Porém, há enormes chances de nove deles não terem mais nada dentro de alguns anos. O vencedor poderia aplicar tudo em títulos Tesouro IPCA+ (as antigas NTN-B) e receber líquido, trimestralmente, em sua conta, pouco mais de R$ 120 mil. Isso é muito, se for para bancar apenas os gastos correntes, como supermercado, manutenção da casa, combustível, restaurantes etc. Porém, se colocarmos na conta a compra de bens, viagens extravagantes e mimos caros, o dinheiro começará a sumir.
Para o dinheiro durar para sempre, há apenas uma saída: gastar apenas o rendimento real, acima da inflação
Quanto custaria comprar um carro e um apartamento para cada integrante da família? Com esse dinheiro, será que todos se contentariam em possuir apartamentos de R$ 400 mil e carros de R$ 50 mil? Se o cidadão comprar um baita apartamento, uma casa na praia e dois carros de alto padrão, já poderá torrar R$ 8 milhões dos R$ 18 milhões, que gerarão despesas próximas de R$ 15 mil mensais. E, nesse caso, sobrará apenas R$ 10 milhões para os investimentos, suficientes apenas para gerar R$ 35 mil mensais de renda. Considerando que o ganhador poderá fazer maus investimentos por não entender do assunto e aceitar sugestões de outros maus entendedores, pronto: estará condenado a ser mais um que irá para a estatística dos 70% que perdem tudo em poucos anos.
O que fazer, então, para que o dinheiro não suma? Simples: ter o recurso investido em coisas sólidas e gastar apenas o rendimento. Minha sugestão é que a família defina um orçamento para compra de bens e depois aplique parte do dinheiro em investimentos que paguem os rendimentos em conta corrente. Um desses últimos ganhadores, por exemplo, poderia destinar 20% para a compra de bens e doações, e aplicar o restante. Se comprar títulos públicos e fundos imobiliários com R$ 15 milhões, terá rendimentos depositados na conta equivalentes a R$ 60 mil mensais, corrigidos periodicamente pela inflação. O dinheiro continuaria crescendo indefinidamente.
Leia também: Educação financeira para os pequenos (artigo de Diogo Gonçalves de Morais, publicado em 30 de maio de 2014)
Parece fácil, mas por que as pessoas não conseguem executar um plano assim? As duas principais razões são: falta de conhecimento financeiro, não apenas da pessoa, mas também dos que supostamente a assessoram; e a emoção que incentiva a viver por impulso, investindo em furadas e comprando “brinquedos” que só geram despesas. O maior segredo é segurar os impulsos, tentando viver de forma não tão diferente do que se vivia antes de o apostador ganhar o prêmio, e buscar ajuda de um profissional fora da família – um consultor independente e ético que, de fato, entenda de investimentos e seja credenciado por uma instituição qualificada, como a CVM ou a Apimec.