| Foto: Rafael Neddermeyer/USP Imagens/Fotos Públicas

Pesquisas indicam que 70% dos apostadores que ganharam fortunas em prêmios de loterias perderam tudo em poucos anos. Na maioria dos casos, as pessoas caem na mesma cilada: acreditam que o dinheiro vai durar para sempre e que todos os seus desejos e de seus familiares poderão ser conquistados. Para o dinheiro durar para sempre, há apenas uma saída: gastar apenas o rendimento real, acima da inflação.

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Na última Mega da Virada houve 17 vencedores, e cada um deles ficou com R$ 18 milhões. Muito dinheiro, não é? Porém, há enormes chances de nove deles não terem mais nada dentro de alguns anos. O vencedor poderia aplicar tudo em títulos Tesouro IPCA+ (as antigas NTN-B) e receber líquido, trimestralmente, em sua conta, pouco mais de R$ 120 mil. Isso é muito, se for para bancar apenas os gastos correntes, como supermercado, manutenção da casa, combustível, restaurantes etc. Porém, se colocarmos na conta a compra de bens, viagens extravagantes e mimos caros, o dinheiro começará a sumir.

Para o dinheiro durar para sempre, há apenas uma saída: gastar apenas o rendimento real, acima da inflação

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Quanto custaria comprar um carro e um apartamento para cada integrante da família? Com esse dinheiro, será que todos se contentariam em possuir apartamentos de R$ 400 mil e carros de R$ 50 mil? Se o cidadão comprar um baita apartamento, uma casa na praia e dois carros de alto padrão, já poderá torrar R$ 8 milhões dos R$ 18 milhões, que gerarão despesas próximas de R$ 15 mil mensais. E, nesse caso, sobrará apenas R$ 10 milhões para os investimentos, suficientes apenas para gerar R$ 35 mil mensais de renda. Considerando que o ganhador poderá fazer maus investimentos por não entender do assunto e aceitar sugestões de outros maus entendedores, pronto: estará condenado a ser mais um que irá para a estatística dos 70% que perdem tudo em poucos anos.

O que fazer, então, para que o dinheiro não suma? Simples: ter o recurso investido em coisas sólidas e gastar apenas o rendimento. Minha sugestão é que a família defina um orçamento para compra de bens e depois aplique parte do dinheiro em investimentos que paguem os rendimentos em conta corrente. Um desses últimos ganhadores, por exemplo, poderia destinar 20% para a compra de bens e doações, e aplicar o restante. Se comprar títulos públicos e fundos imobiliários com R$ 15 milhões, terá rendimentos depositados na conta equivalentes a R$ 60 mil mensais, corrigidos periodicamente pela inflação. O dinheiro continuaria crescendo indefinidamente.

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Parece fácil, mas por que as pessoas não conseguem executar um plano assim? As duas principais razões são: falta de conhecimento financeiro, não apenas da pessoa, mas também dos que supostamente a assessoram; e a emoção que incentiva a viver por impulso, investindo em furadas e comprando “brinquedos” que só geram despesas. O maior segredo é segurar os impulsos, tentando viver de forma não tão diferente do que se vivia antes de o apostador ganhar o prêmio, e buscar ajuda de um profissional fora da família – um consultor independente e ético que, de fato, entenda de investimentos e seja credenciado por uma instituição qualificada, como a CVM ou a Apimec.

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Raphael Cordeiro é consultor de investimentos, sócio da Inva Capital, coordenador do curso de EAD em Finanças Pessoais da Universidade Positivo (UP) e autor de “O sovina e o perdulário”.