Há muitas ilusões, mitos e armadilhas em relação aos assuntos financeiros. Quanto aos investimentos, em particular, há toda uma ciência; a ciência do "dinheiro fazendo dinheiro".
No dia 13 de agosto, sábado pela manhã, participei de um debate na Rádio CBN, cujo tema era o título deste artigo. Comecei dizendo que, antes de descobrir fórmulas para proteger seu dinheiro, é preciso descobrir como ganhá-lo, como gastar e como poupar. Na sequência, afirmei que mais importante do que inventar fórmulas para defender seu dinheiro é saber "contra o que" ele deve ser defendido, e acrescentei: se quer imunizar seu filho contra a paralisia, você deve levá-lo para tomar vacina. Mas, se quer defendê-lo do frio, não adianta tomar a vacina; é preciso comprar uma blusa. Com o dinheiro é a mesma coisa. A estratégia a ser escolhida depende do que se quer combater. Na crise ou na euforia, seu dinheiro tem três inimigos: 1) sua ignorância; 2) a inflação; 3) seus hábitos.
Quanto ao primeiro, não me refiro à ignorância no sentido largo da palavra. Refiro-me à ignorância em assuntos financeiros. Há pessoas que têm alto nível intelectual e são ótimos profissionais em suas áreas, mas são analfabetos quando se trata do mundo do dinheiro. A arma para combater esse inimigo é "conhecimento". Não qualquer conhecimento, mas aquele que o capacita para entender os intricados aspectos teóricos e técnicos que envolvem a arte de ganhar, poupar, conservar e fazer o dinheiro render, sobretudo em tempos de crise.
Há muitas ilusões, mitos e armadilhas em relação aos assuntos financeiros. Quanto aos investimentos, em particular, há toda uma ciência; a ciência do "dinheiro fazendo dinheiro". Entendê-la depende de estudar e praticar. Pediram-me para definir o que é o mercado financeiro, sob a ótica do investidor. Socorri-me de uma definição de "capitalismo", oferecida pelo genial filósofo André Comte-Sponville. Diz ele: "O capitalismo é um sistema econômico que serve para produzir, com riqueza, mais riqueza".
Pois o mercado financeiro é isso: "Um sistema que serve para produzir, com dinheiro, mais dinheiro". Porém, para desvendar esse sistema, é necessário saber como ele funciona, quais suas regras e como são medidos seus resultados. Esse é o conhecimento a ser buscado, e, nesse assunto, em boa medida somos todos ignorantes.
O segundo inimigo do dinheiro é a "inflação". Siga o raciocínio: você aplica R$ 100 mil em um título de renda fixa, à taxa de 12% ao ano. Após um ano, você terá R$ 112 mil brutos. O governo comerá de imposto entre 15% e 22,5% sobre os juros ganhos. Admitamos que o imposto leve 20%, ou seja, R$ 2.400,00. Sobrarão R$ 109.600,00, um ganho de 9,6% sobre o valor aplicado. Aí, você descobre que houve uma inflação de 7% no ano e as coisas que você comprava por R$ 100 mil passaram a custar, doze meses depois, R$ 107 mil. Resumindo: seu ganho real, acima da inflação, foi de R$ 2.600 (R$ 109.600 menos R$ 107.000), ou seja, apenas 2,6% no ano.
Se não fizer essas contas e resolver gastar os juros brutos de 12%, conservando o capital inicial na poupança, você terá o dissabor de descobrir que, se aqueles R$ 100 mil davam para comprar um apartamento, alguns anos depois você talvez consiga comprar, no máximo, a área de serviço. A inflação composta é um terremoto destruidor de patrimônio; muitos caem nas armadilhas que ela provoca.
O terceiro inimigo de seu dinheiro é "você e seus hábitos". Grande parte da população não chega a ter de se preocupar em defender seu dinheiro, porque não tem dinheiro. São pessoas que gastam tudo o que ganham e mais um pouco. Não são poupadores. São devedores contumazes. Para elas, a primeira questão não é descobrir como proteger seus ativos da crise, mas como "proteger seu dinheiro delas mesmas". Há algum tempo, li no jornal Valor Econômico que 30% dos executivos financeiros estavam quebrados, com as finanças pessoais em frangalhos, endividados e rolando dívidas.
Esse terceiro inimigo de seu dinheiro (você mesmo) não se combate com conhecimento técnico. É um problema de ordem emocional e tem a ver com sua personalidade e seus hábitos. Logo, a solução deve ser procurada no consultório de um psicólogo. Como disse Shakespeare, em Hamlet: "Está em nós mesmos, meu caro Brutus, e não nas estrelas, a causa de nossas desgraças".
Enfim, se você quer melhorar suas habilidades para manejar dinheiro, o caminho é "educação", sobretudo, educação financeira, que inclua conhecimentos técnicos, mudança de hábitos e controle de suas emoções. Sem isso, a tentativa de melhorar sua situação financeira é inútil e insana. E, relembrando Albert Einstein, "insanidade é você continuar fazendo o que sempre fez e querer obter resultados diferentes".
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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