Se combater a Cracolândia é um erro, se a internação compulsória não traz resultados e se o uso da força policial é uma ação eleitoreira, então a Cracolândia chegou para nunca mais sair, pois não há formas delicadas de tratar um ambiente onde a violência fez um enorme grupo de reféns.
A maior parcela da sociedade vive ansiosa por uma resposta imediata à degradação social que as cracolândias trazem para as cidades, enquanto alguns grupos classificam qualquer ação de intervenção da Justiça como um ato desrespeitoso aos direitos humanos e ineficiente no combate às mazelas sociais causadas pelo uso abusivo do crack.
O que foge ao conhecimento da maioria da população são os inúmeros aspectos relacionados à dependência química. Falta conhecer o que acontece no campo político do universo das drogas, pois estamos tratando de produtos que rendem o maior faturamento anual do planeta. Isso por si só movimenta disputas, guerras e divergências de todo tipo.
Não é possível esse ambiente se recuperar sozinho sem a intervenção de agentes de segurança em parceria com ações de saúde
Nova York enfrentou essa situação entre as décadas de 80 e 90 e é a referência histórica de como essa realidade pode ser mudada. Se resumirmos a questão em uma frase, podemos dizer que o combate à Cracolândia como ação isolada é uma “higienização social”, mas, quando articulado com estratégias sociais de resgate, é uma atitude de valorização da vida.
Um dos primeiros aspectos que deve ser considerado é a distinção do usuário comum de drogas dos tipos de usuários da Cracolândia. O uso de drogas poderosas como o crack geralmente leva a uma compulsividade crescente. A Cracolândia é, portanto, um espaço de concentração da maioria dos usuários altamente compulsivos em crack e que estão em seu pior estado de vulnerabilidade. Sua saúde mental fica muito comprometida e o usuário está sujeito a perdas de acesso a decisões conscientes, o que dificulta a ação dos agentes de atenção psicossocial, pois a participação lúcida é um dos fatores preponderantes nos resultados da manutenção da abstinência. E é sobre esses fatores que a questão toma um vulto singular na forma de abordá-la.
Leia também: Vulnerabilidade social e contágio psicossocial (artigo de Hilário de Oliveira, publicado em 12 de junho de 2017)
Leia também: Quando a internação compulsória é a única solução (artigo de Jeferson Fusaro, publicado em 8 de junho de 2017)
Existem inúmeros riscos sociais envolvendo os usuários e os moradores da região no que tange à saúde e à segurança nesses ambientes. Os traficantes se apoderam desses espaços, tendo os usuários como escudos, e a degradação toma conta do local. Não é possível o ambiente se recuperar sozinho sem a intervenção de agentes de segurança em parceria com ações de saúde. Todos ficam vulnerabilizados, tanto moradores quanto usuários. Algumas das vulnerabilidades são explícitas: maior exposição ao tráfico, aumento da violência, brigas, furtos, estupro, gravidez indesejada e de risco, comorbidades (predisposição ao surgimento de outras doenças), piora acentuada da saúde mental, comprometimento das liberdades de ir e vir, patologias e psicopatologias deflagradas por ambientes degradados, sujeição a preconceitos, desvalorização de patrimônio etc.
O clientelismo político também surge na oportunidade de se manter um problema para o custeio de estruturas caras e ineficazes e, por vezes, disfarçadas de atendimento humanitário.
Como cobrar a transparência das ações propostas para desfazer este ambiente marginalizado? Evidenciando a busca pelo atendimento das necessidades de todos. Parcerias com as redes de atenção psicossociais em conjunto com ações de segurança e reintegração colaboram para um melhor alcance deste público, ajudando a recuperar os ambientes e as pessoas.
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