A imagem popular do gênio criativo seria a de um obsessivo brilhante que realizaria feitos de criatividade sobre-humanos, por conta própria; isto é, sozinho. Normalmente, trabalharia em uma “garagem” mítica. Essa é a imagem que durou por décadas, se não séculos.
Está muito claro que a mitologia em torno do gênio autossuficiente faz pouco sentido. Steve Jobs, CEO da Apple, mantinha milhares de pessoas altamente competentes, que possibilitaram que ele fosse o pioneiro do computador pessoal e de muitas inovações tecnológicas. Da mesma forma, Elon Musk, da Tesla e SpaceX, emprega milhares de pessoas que o capacitam a criar tecnologias inovadoras e futurísticas. O mesmo ocorre com Jeff Bezos, da Amazon, e Sundar Pichai, da Google.
Embora criatividade seja uma tarefa de equipe, nossa simbologia cultural permanece extremamente focada no indivíduo. No entanto, construir uma comunidade de pessoas competentes ao nosso redor é essencial para alcançar o dito “sucesso de classe mundial”.
Um estudo da Universidade da Califórnia analisou as redes sociais de mais de 2 mil cientistas e inventores, demonstrando que a rede de um profissional inovador pode prever projeção, produtividade e até mesmo a duração da sua carreira. Outro estudo descobriu que uma ampla gama de artistas e esportistas de “classe mundial” havia estudado sob a orientação de um professor experiente e implacável. Muitos desses artistas e esportistas de sucesso adquiriram a força da reputação pelo número de relacionamentos que eles mantiveram com outros artistas e esportistas bem-sucedidos, tanto dentro quanto fora das próprias gerações.
Os inovadores criativos, em geral, têm quatro tipos diferentes de pessoas competentes em suas redes: um professor ou pesquisador experiente; um crítico exigente; uma pessoa que sirva de “musa moderna”, que os inspire; e um promovedor ou financiador proeminente. Cada uma dessas funções é desempenhada por um indivíduo ou grupo de pessoas. Nenhum papel é mais essencial que o outro: com apenas um deles ausente, o sucesso criativo de uma pessoa torna-se menos provável. Juntos, eles formam uma “comunidade criativa”: um grupo de pessoas que afetam direta e indiretamente o processo criativo inovador. Essas comunidades são um dos aspectos mais importantes da criatividade. As quatro funções são essenciais, e os inovadores criativos buscam atrair pessoas vitais, que possuam tais características.
Na Europa e nos Estados Unidos, as pessoas estudam tudo o que existe na sua área de interesse e interagem bastante com pessoas competentes que atuam no mesmo campo. Além disso, têm consciência de que alguns empreendimentos são construídos com grande esforço e muitos anos de trabalho. Superficialidade e imediatismo não são quesitos a considerar, quando se deseja conceber e implantar um produto ou serviço inovador.
Hoje, é necessário haver uma equipe de pessoas altamente competentes, dotadas daquelas quatro características referidas. O gênio criativo isolado, se alguma vez existiu, não gera mais produtos e serviços inovadores. Há muito tempo o símbolo da “garagem” está extinto!
Marcos de Lacerda Pessoa, engenheiro, Ph.D. pela Universidade de Birmingham (Inglaterra) e pós-doutor em Engenharia pelo MIT, concebeu o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), a Universidade Copel (Unicopel) e a banda extra larga da Copel Telecomunicações (Copel Fibra), é autor de Sementeira de Inovação e proprietário do centro de apoio à inovação futuri9.com.
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