Já escrevi outros artigos refletindo sobre democracia e liberdade no Brasil pós Covid-19. Agora, gostaria desdobrar essa discussão e analisar o papel desempenhado pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante e após o contexto de crise desencadeado pela pandemia da Covid-19, especialmente no que se refere aos conceitos de democracia e liberdade.
Jair Bolsonaro não fala de uma liberdade utópica. Para ele, ela se traduz em poder de escolha, mobilidade do eu-pessoa que atua efetivamente no espaço moral do cotidiano. E o que mais ela é? Ela é a vontade livre que se converte em ação prática que transforma a realidade de cada um dos seus portadores. Por conta disto, o cidadão tende a depender menos do Estado e mais de sua própria liberdade para viabilizar a construção de novos cenários de vida.
Jair Bolsonaro se coloca como um “profeta” que vai contra esse sentido utópico da liberdade: as mudanças devem ocorrer agora, na esfera imediata do tempo presente, e não em um futuro que jamais será alcançado
Neste caso, Jair Bolsonaro se coloca como um “profeta” que vai contra esse sentido utópico da liberdade: as mudanças devem ocorrer agora, na esfera imediata do tempo presente, e não em um futuro que jamais será alcançado. Liberdade é mobilidade política da vontade livre do eu. O presente é potencialmente transformável para ele, graças à sua natureza efetiva no presente de um futuro sonhado. O presidente poderia, no meu entender, ser considerado como “aquele que clama no deserto” e assim o faz dentro desse imenso túnel escuro que se tornou a democracia disfuncional brasileira. Ele defende a liberdade como direito natural de todo cidadão. Quem nasceu livre não conseguiria viver sem a liberdade.
Ele representa a voz e vez de uma democracia representativa que permite ao país ter um Congresso Nacional do bem, uma Constituição Federal que limita o poder do Estado e um Judiciário que trabalha para assegurar as garantias do cidadão brasileiro. Sua concepção de democracia é simples: deixe a vontade do povo ser revelada no processo transparente do sufrágio. A verdade que liberta também é e pode ser a mesma que revela as pretensões obscuras de quem está na política para exercer a opressão em nome de uma “ideologia de morte”.
Democracia é coisa do povo e o Jair Bolsonaro é um “presidente do povo”. Essa rara combinação que provoca o choque de horizontes éticos do bem (presidente e nação brasileira) fez com que boa parte dos cidadãos brasileiros o respeitassem. O presidente não é um “super herói”, mas é amado pelo povo como se fosse um. Acredito que sua lealdade ao povo não é de natureza teatral. Ele luta contra a corrupção que foi e ainda está enraizada na cultura da política brasileira. Ele peleja contra a mentira e a falsidade de um ethos político que foi construído, ao longo da história política do Brasil, para se servir do povo (roubando-lhe), e não para servir ao povo.
A liberdade pela qual ele luta não é a que fica somente no papel da Constituição Federal brasileira, mas aquela que ganha encarnações morais no cotidiano da fala, do pensamento, da vida e do trabalho do cidadão. Ele não é um presidente do discurso acadêmico impecável e profundo. Ele é da fala fácil, descomplicada, que tem um ministro da Economia que ensina economia de forma acessível, inconfundível e simples, e que luta tanto quanto ele pela viabilização econômica da vida de milhões de trabalhadores informais. Não há compromisso com etiquetas sociais, linguagem rebuscada, nem tampouco com protocolos vazios que aumentam ainda mais a distância com o povo. Poderia dizer que ele é semelhante ao rei Davi, o mais popular rei da história de Israel. Ele é simples porque ele sempre foi simples; não inventou um personagem. Um homem simples gosta de coisas simples. Por ser um amante da liberdade, Bolsonaro consegue usar o poder que ele detém para realizar suas propostas. Por causa dela, ele deu ao seu mandato um sentido que transformou seu status de presidente em emblema de entrega ao povo.
Na democracia de Jair Bolsonaro, um presidente tem o dever de entrar na casa de uma cidadã pobre pra ver se em sua geladeira existe comida. No conceito de democracia, um presidente deve lutar arduamente para ajudar quem trabalha e também para quem quer trabalhar. Democracia não deve servir à cultura política de autobenefício. Ao contrário: ela se converte em heterobenefício, isto é, ela figurar-se como poder levar ao povo aquilo que precisa.
Vejo isso como um exemplo de como se governa uma sociedade livre, com senso de justiça, e para o bem dela. Mesmo atrapalhado por uma pandemia e por um Judiciário politizado, tivemos mudanças significativas. Se para seus antecessores o cargo político serviu apenas para alimentar a fome de poder e da vaidade que tinham, acredito que para Bolsonaro, o cargo é entendido como “uma missão”.
Considero que Bolsonaro se tornou a maior representação viva da liberdade que existe num “mundo povoado por lobos-tiranos”, políticos que querem transformar a sociedade brasileira em uma “sociedade pós-democrática” e de “pós-liberdade”. A liberdade é a arma mais poderosa que o cidadão tem para lutar pela sua paz e pela sua liberdade e autonomia econômica e social. Quanto mais livre é o cidadão, menos prejuízo ela dará aos cofres do Estado brasileiro. A dignidade do cidadão só se confirma na afirmação de sua liberdade. Qualquer conquista sem ela é mera ilusão, uma fantasia infantil lançada em direção ao vazio. Quem promete o céu sem a liberdade oferece apenas o inferno repleto de escravos apaixonados por uma forma de vida servil e destituída de autonomia da vontade.
Os verdadeiros adversários algozes da democracia (e, por extensão, da liberdade) são os que convocam o “proletariado” a fazer uma revolução com armas, sangue e violência.
A democracia defendida por Bolsonaro é mais escudo de defesa do que arma de ataque. Ela protege o indivíduo salvaguardando as garantias que a Constituição Federal lhe assegura. Nela, a vida é um direito natural e fundamental tanto quanto a liberdade. Por isso, a liberdade se constitui uma unidade operacional com a vida, e ambas se tornam valores e direitos indispensáveis à pessoa humana. Os falsos defensores de uma democracia de natureza duvidosa tentam convencer que são do bem, mas as pessoas conseguem identificá-los como inimigos da verdadeira liberdade e da vida.
Os verdadeiros adversários algozes da democracia (e, por extensão, da liberdade) são os que convocam o “proletariado” a fazer uma revolução com armas, sangue e violência. Inimigos da democracia são aqueles que, mesmo se identificando como cristãos-evangélicos, dizem que “sem derramamento de sangue não haverá redenção” – e isso no sentido literal. Bolsonaro é líder dos pacíficos que querem a liberdade que está cada vez mais ganhando status de utopia.
Para responder a pergunta “o que é democracia” cabe apenas uma resposta. A democracia é uma forma de serviço (diaconia) que um governo presta ao seu povo com lealdade, para lhe garantir o usufruto pleno da liberdade entendida como conditio sine qua non para se viver numa sociedade de direitos e garantias fundamentais. A luta pacífica em favor da liberdade ameaça somente àqueles que querem governar o Brasil com o seu povo algemado, amordaçado e oprimido pelas infindáveis formas de medo criadas pelo espírito da antidemocracia.
Anderson Clayton Pires é doutor em Sociologia e em Teologia e Hermenêutica, pastor luterano e professor.
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