| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Eu ainda escrevo melhor à mão. Foi deste modo que eu comecei a construção deste texto. Com esta afirmação, pedi para que meu marido me trouxesse uma folha de papel arrancada de um velho caderno de um dos meu filhos que estava abandonada na sala. Sei que depois teria o trabalho de passar a limpo meus garranchos, digitar, revisar, mas tinha a certeza de que não haveria modo melhor de escrever este texto que o meu modo melhor de escrever, e isso valia o retrabalho.

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Descobrir o melhor modo de aprender e criar dos meus filhos é que é hoje um grande desafio para mim. Sou mãe de três meninos de 10 anos que estão participando de concursos de bolsas e classificatórios para admissão no sexto ano escolar dos carinhosamente apelidados vestibinhas, mas que de carinhosos não têm nada. Por isso, de modo mais marcante, tenho lidado quase que diariamente com estas diferenças de aprendizagem, ensino e estímulo entre eles.

Os pais não ficam imunes aos desafios acadêmicos e emocionais dos concursos

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Este período de vestibinhas tem mexido com eles, é fato. Mas os pais não ficam imunes aos desafios acadêmicos e emocionais dos concursos. Mesmo porque a responsabilidade de realizar as inscrições e garantir a participação e o preparo das crianças é nossa. Exatamente porque é isso o que eles são: crianças.

Não sei dizer ao certo quando a mudança aconteceu, mas, de repente, as conversas entre os pais em festas de aniversário e na saída das escolas mudaram de receitas para a criança dormir melhor para as diferentes opções de cursos preparatórios, métodos de ensino a distância, canais de professores no YouTube com provas e questões resolvidas e as melhores alternativas no caso de os pequenos concurseiros não serem aprovados nas opções mais atrativas. Atrativas para quem? Mais que aos estudantes, atrativas aos bolsos dos pais e à promessa de uma formação de qualidade, se possível, recheada de variedade de atividades extras para o pequeno poder escolher.

Leia também: As cotas na 1.ª fase do vestibular e a política de inclusão social da UFPR (artigo de Maria Amelia Sabbag Zainko e Mauro José Belli, publicado em 30 de novembro de 2015)

Leia também: Igualdade de oportunidades nas universidades públicas (artigo de Samy Pinto, publicado em 12 de agosto de 2017)

Nas entradas e saídas dos cursos preparatórios nós pais nos confortamos e criamos uma rede de apoio, alguns também competem e se ancoram na realização dos filhos como troféus e não cabe a mim julgá-los, afinal, todos podemos oscilar de postura. Enquanto alunos com uniformes de diferentes escolas, particulares e públicas, sentam-se lado a lado para receberem as melhores dicas e conteúdos de professores sempre animados, e também pressionados, para garantirem o maior número de aprovações que depois estamparão os materiais promocionais dos cursos para os anos seguintes.

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Em meio a todo esse cenário, uma certeza eu tenho: do mesmo modo que eu encontrei o meu melhor modo de escrever, os meus filhos encontrarão seus próprios melhores modos de aprender, agir, reagir e fazer escolhas, ao passo que eu aprenderei e descobrirei novos modos de lidar com cada uma destas novas etapas na vida deles e na minha, porque a maternidade e a paternidade são fontes inesgotáveis de aprendizado e o resultado dos vestibinhas em nada alterará o amor que sentimos por essas crianças.

Cristiane Souza é jornalista, escritora e mãe; ministra oficinas criativas de escrita e é autora de literatura infantil.