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Um ginásio tomado por bandeiras de diversas cores, sobretudo vermelhas, camisas de vários movimentos, símbolos, pequenos panfletos, tambores e instrumentos. Tudo isso com centenas de jovens circulando pelo espaço. A cena que narro é real e aconteceu durante um congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), no qual participei em 2013, no fervor da primeira faculdade. Ver de longe a cena causa um certo entusiasmo, mas bastou olhar atentamente para que a empolgação se dissipasse.
A viagem de ônibus tinha a promessa de encontrar em Goiânia, a sede do congresso naquele ano, uma demonstração de pluralidade e “democracia”, onde seria possível o diálogo e a troca de experiências. Uma ingenuidade. Dentro do Congresso da UNE, quem ousa discordar recebe interrupções e boicotes, dos mais simples, como desligar o ar-condicionado de um auditório ou vaiar de forma ininterrupta alguém com a posição divergente ao grupo majoritário.
No fim, a UNE se transformou em uma vitrine para que alguns “Che Guevaras de apartamento” tenham alguma visibilidade.
Vale lembrar que há 30 anos a diretoria executiva da UNE é controlada com mão de ferro pelo PCdoB, por meio do braço juvenil denominado União da Juventude Socialista (UJS), com apoio do PT. Mesmo os dirigentes mais experientes do partido fazem parte da organização, controlando cada movimento do congresso.
A UJS costuma ocupar o centro da arena no evento, pois é o grupo mais numeroso. Porém, isso não significa que todos ali sejam militantes dedicados, pelo contrário. Muitos embarcam na aventura de uma viagem gratuita para outro estado e com alojamento disponível.
Na plenária final, onde é eleita a nova diretoria executiva da UNE, o plano dos burocratas está definido: o PCdoB indica um presidente e as outras forças políticas, como o PT, integram a grande chapa para manter os cargos dentro da entidade. Não há debate, não há chance de escolha, mas somente aclamação do que já foi definido há meses.
No fim, a UNE se transformou em uma vitrine para que alguns “Che Guevaras de apartamento” tenham alguma visibilidade. O curioso é que o tema do congresso de 2023 inclui “direitos e democracia”. Aqui se aplica uma frase de um conhecido figurão da política brasileira: “democracia é um conceito relativo para mim e para você”.
Igor Pereira é jornalista, acadêmico de Direito e coordenador local do Students For Liberty em Belém do Pará.