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Todos os dias, milhares de procedimentos médicos são realizados nas várias regiões do nosso país, sob custeio dos sistemas público ou privado de saúde, pelo desembolso direto dos usuários dos serviços ou até mesmo sob ações de voluntariado. Normalmente, é acentuadíssimo o grau de satisfação dessa assistência, premiando, mesmo que de forma anônima e sem alarde, a dedicação empreendida pelos profissionais de saúde, incluídos aí os médicos.

Assim mesmo, por ser um segmento diretamente ligado à vida e ao bem-estar das pessoas, eleva-se a sua vulnerabilidade por interpretações de insucessos e, do mesmo modo, são mais visíveis e de repercussão imediata as denúncias de atos entendidos como de negligência, imperícia ou imprudência. Esta visão se avoluma quando do despertar da ganância, de interesses econômicos manifestados nas demandas levadas à esfera judicial sob a leitura de erro médico ou de excesso ou omissão no comportamento do médico.

No Conselho Regional de Medicina (CRM-PR), vimos as denúncias se multiplicarem na mesma proporção das apenações de profissionais. Isso nos trouxe maior respeito e credibilidade, mas também observamos que se estabeleceu um círculo vicioso de reação punitiva, comodista até pela influência do que ocorre no dia a dia das relações humanas e comportamentais. Fragilidades na educação, na segurança pública, na proteção ao meio ambiente, à sustentabilidade e nas respostas sociais explicam um pouco do que estamos falando.

Não há dúvida de que os avanços científicos e tecnológicos nos tornarão mais longevos e também mais bem informados

Vimos que grande parte das queixas recebidas pelo CRM, suscitando abertura de procedimentos sindicantes, não tinha amparo em evidências de exclusivo despreparo técnico-prático de médicos; o problema era outro, de despreparo ético, de inobservância de requisitos elementares de boa convivência e de respeito aos pacientes. Acentuado número de queixosos expunha sua angústia como uma ferida aberta por falta de diálogo, de transparência, de atitude igualitária enquanto estatura humana, e não da barreira estabelecida entre quem está fragilizado, pedindo ajuda, e quem é colocado em condições de oferecer o amparo, o conforto, o conhecimento profissional e maior segurança física e psicológica.

Por isso, em 2011 lançamos um projeto mais arrojado de educação continuada, com fulcro preferente nos aspectos éticos, oferecendo aos médicos e estudantes uma gama crescente de atividades de orientação e conscientização, usando para isso os referenciais balizadores de condutas, a exibição e debate dos dilemas e os problemas do cotidiano e os bons exemplos que podem – e devem – ser seguidos em acolhimento aos valores maiores da profissão. Os princípios fundamentais de nosso Código de Ética já trazem, em seu item inaugural, que “a Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza”: é este o ponto de partida da odisseia.

Como resultado, o Paraná não apenas conseguiu promover decréscimo anual no índice de processos ético-profissionais, mas também se prepara para fechar o ano com um patamar inferior ao que registrávamos há uma década. Isso mostra que é possível, sim, termos médicos mais conscientes de suas responsabilidades e beneficiários dos seus serviços mais satisfeitos e esperançosos.

Leia também: As humanidades na formação médica (artigo de Carlos Almeida Junior, publicado em 5 de julho de 2017)

Leia também: Plano de saúde ou plano de doença? (artigo de Cadri Massuda, publicado em 13 de junho de 2018)

Nesse processo formador de consciência ética na área médica, a partir de uma lógica evolutiva-educativa, podemos entender que é possível fazer o semeio em outros campos e projetar a expectativa de uma sociedade mais atenta aos seus direitos e deveres, sobretudo com o seu próprio corpo e mente. Não há dúvida de que os avanços científicos e tecnológicos nos tornarão mais longevos e também mais bem informados. Mas isso não garante que seremos seres humanos melhores, mais felizes e mais aculturados e solidários.

Na passagem do Dia do Médico, podemos dizer que temos, sim, bons motivos para comemorar e confraternizar com a população pela certeza de que há um universo de profissionais convicto em seu papel hipocrático. São médicos e médicas que oferecem o melhor de si em prol das pessoas sob seus cuidados, mesmo enfrentando todo tipo de dificuldades, que incluem a falta de segurança no ambiente de trabalho, de infraestrutura e de incentivo à carreira. A eles expressamos todo o nosso orgulho e a certeza da escolha do bom caminho, e registramos a mensagem de mestre: “Para ser médico precisa gostar de gente, mesmo que indigente. Gostar de diagnósticos, mesmo que por vaidade, é útil assim mesmo. Ter gosto de reparar, curar e modificar o ser como um deus terreno; sereno nos propósitos, certeiro nos acordes”.

Roberto Issamu Yosida é presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná.
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