Durante as homenagens que prestou, quarta-feira, ao padre católico assassinado por um adolescente islâmico, o Papa Bento XVI pediu a Deus que a morte do sacerdote sirva para solidificar o diálogo entre as religiões. Mais do que ninguém, o líder da Igreja Romana sabe que a paz não será possível, no Oriente ou no Ocidente, enquanto vidas forem ceifadas em nome de uma suposta supremacia religiosa.
Esta é, também, a experiência do Conselho Mundial de Igrejas CMI que congrega mais de meio bilhão de cristãos de mais de 100 países, que professam sua fé em cerca de 300 diferentes igrejas. O CMI realiza sua 9.a Assembléia Geral em Porto Alegre, no período de 14 a 23 deste mês de fevereiro, sob um tema que é também uma oração: "Deus, na tua graça, transforma o mundo". Salvar o mundo que está apodrecido pela corrupção, pela ganância, pelo egoísmo, pelo fanatismo e pela intolerância religiosa é mesmo uma tarefa para Deus somente. Não por acaso, o Papa Bento XVI designou um cardeal, Walter Kasper, como representante do Vaticano perante a Assembléia do CMI.
Muitas outras autoridades religiosas e muitas personalidades prestigiarão a Assembléia, que se realiza pela primeira vez na América Latina. Dentre elas, três Prêmios Nobel da Paz o bispo Desmond Tutu (África do Sul), Rigoleta Menchu (Guatemala) e Adolfo Perez Esquivel (Argentina). Sua Santidade Aran I, Patriarca da Armênia e o arcebispo de Canterbury, D. Roman Williams, também estarão na Assembléia. Temas palpitantes serão abordados no encontro cujos participantes três mil, entre brasileiros e estrangeiros ouvirão testemunhos do trabalho que o CMI, fundado há 60 anos, desenvolve em várias partes do mundo junto aos países pobres e junto a áreas flageladas pela arrogância pseudo-religiosa. Frutos e não os menores desse trabalho são a ajuda aos países africanos nas áreas de saúde e educação e também a permanência de um grupo de apoio e observação na Cisjordânia, ao lado do muro que Israel mandou construir para dificultar o acesso dos árabes.
Durante a Assembléia, sob uma tenda gigante, jovens do mundo todo discutirão seus problemas e ouvirão as experiências uns dos outros; também as mulheres se reunirão para discutir seus caminhos; haverá encontros especiais de índios e portadores de deficiência física e ainda os Diálogos Ecumênicos. Dezenas de oficinas ocorrerão durante o evento maior, encorajando o diálogo franco e a reflexão aprofundada sobre questões importantes como Missão para a cura e reconciliação de comunidades; Pluralidade religiosa é abraçada e temida; Sexualidade humana: corpo e alma; mundo e igreja; Cuidar da fé em um mundo com internet: comunidades cristãs e novas tecnologias; A proteção da vida e dignidade das pessoas; as igrejas diante de novas ameaças à paz e à segurança humana; o escândalo da pobreza e do aumento das desigualdades.
Dentre os objetivos do CMI estão o aprofundamento das ações para o comércio justo, a educação e a formação para paz e não-violência, tudo dentro da sua grande meta que é a divulgação do ecumenismo, a aproximação de todos os cristãos. Como disse o secretário-geral, reverendo Samuel Kobia: "A 9.ª Assembléia do CMI vai marcar uma nova fase na luta pela unidade dos cristãos".