Um conhecido axioma popular reza que se conselho fosse bom não seria dado de graça. É uma verdade relativa, como a maioria delas, muitas vezes o conselheiro está apenas praticando o esporte de palpitar em situação que não o envolve diretamente. E sabemos que resolver problemas alheios na teoria, sem o ônus da ação, costuma ser tão agradável quanto inócuo.
O valor de um conselho está diretamente ligado ao compromisso, interesse, amizade, de quem o dá por quem o recebe. Pais e filhos, professores e alunos, amigos e amigos, raramente um deles falará a outro algo em que não acredite, que não considere mesmo que é o melhor para a pessoa e para o momento; ainda que às vezes não seja, valendo a intenção e o propósito.
Aprender exige resiliência e confiança de que, apesar dos percalços e dúvidas, poderemos ultrapassar as dificuldades
O que costuma ser tomado como forma venenosa de conselho é a crítica, embora nem sempre maldosa. Crítica é imprescindível para o amadurecimento, para a melhoria e o autoconhecimento. Pessoas poderosas pouco sensatas abominam serem criticadas, preferindo cercar-se de áulicos que apenas confirmam a elevada opinião que elas têm de si mesmas, não apresentando nenhum contraponto que propicie reflexão. Quando ocupam altos cargos públicos as consequências podem ser desastrosas.
Como quase tudo na vida, a crítica exige dosagem, até mesmo a elogiosa. Pessoas criticadas com demasiada constância, e alguma injustiça, podem ter sua autoestima destruída; ao contrário, se forem exageradamente elogiadas poderão carecer de sentido de realidade. Equilíbrio e bom senso são fundamentais, pois o excesso, tanto de um lado quanto de outro, é prejudicial.
Muitos pais, e mesmo professores, acreditam sinceramente ser indispensável apoiar irrestritamente os jovens sob suas responsabilidades, e que isso deva ser traduzido em elogios constantes, mesmo que imerecidos, em nenhuma reprimenda, mesmo quando o comportamento deixa muito a desejar. É como se a autoestima, frágil, se destruísse à menor crítica, como se na verdade um ego forte e egoísta fosse o ideal para a sobrevivência.
Por outro lado, alguns adultos parecem raciocinar dentro da perspectiva de que ninguém, até o final da adolescência, é capaz de agir com discernimento ou dominar certos conhecimentos com profundidade, estando sempre a ridicularizar ou desmerecer comportamentos juvenis. Ao decidir por eles, tiram sua autonomia e poder de decisão, censurando-os constantemente destroem seu amor próprio e sua confiança na capacidade de se fazer amar.
É fácil observar nas escolas os resultados de ambos os descomedimentos, a dificuldade de aprendizagem aparecendo como consequência dos comportamentos abusivos.
Crianças ou jovens extremamente imbuídos de suas próprias qualidades e sabedorias, dificilmente terão a humildade indispensável para aprender algo novo, menos ainda se o assunto for complexo e exigir tempo de reflexão. Certos de sua perfeição, não exercitarão a paciência necessária para o estudo.
Aprender exige resiliência e confiança de que, apesar dos percalços e dúvidas, poderemos ultrapassar as dificuldades: amor próprio e crença na capacidade individual são indispensáveis; por isso, se o aprendiz não reconhece em si esta potencialidade, se em tudo se julga menos que os demais, dificilmente fará o seu melhor.
Um pouco de cuidado e amor parece decisivo para formar um ser humano apto ao processo educativo, alguém capaz de reconhecer um erro e interessar-se por acertar, aceitar um elogio ou uma crítica eventual sem extremismos. Pais e professores em especial precisam estar voltados aos jovens, reconhecendo suas reais qualidades, suas características que podem ser melhoradas, sem alimentar expectativas irrealistas de mudanças radicais, que na maior parte das vezes apenas serão formas de compensar deficiências ou sonhos irrealizados do próprio adulto.
O “caminho do meio” tem se demonstrado o mais eficiente para produzir alunos alegres, curiosos, respeitosos e interessados.
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