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Este não é mais um artigo com uma receita infalível de sucesso que, no fundo, é apenas uma isca para vender um curso ou uma série de palestras que não mudarão em nada a sua vida, talvez apenas a fatura do seu cartão de crédito, mas tentarei elencar uma série de máximas que ouvi ao longo da minha existência e que me servem como se fossem pontos de interesse no GPS da vida, ajudando-me a encontrar o caminho sempre.
O primeiro grande pensamento que me fez perceber muitas coisas e que me permitiu ter uma visão diferente dos acontecimentos que me rodeiam foi escutado em 1998, quando um conhecido, um músico costa-riquenho, disse nos bastidores a um jovem estudante de direito: “Deus está tramando algo e nós fazemos parte disso.”
Naquele momento, o rapaz que hoje escreve este artigo imaginou Deus em uma sala de reuniões, puxando diversos barbantes vermelhos com tachinhas em um daqueles quadros de investigação de séries americanas. Cada tachinha era uma pessoa ou acontecimento que despontava em outros acontecimentos e pessoas. Tudo interligado segundo a trama de Deus.
Todas as vezes que pratiquei em minha vida esses quatro conselhos, meu coração permaneceu tranquilo, mesmo diante de um mundo tão perturbado que nos rodeia
Essa trama de Deus veio a ser confirmada pelo olhar mais aguçado de quem começou a buscar os sinais de que Alguém realmente estava cuidando de tudo o que acontecia no mundo. Eu pude ver os barbantes vermelhos se esticando desde a minha passagem pelo ensino fundamental até a minha vida como colaborador da Santa Sé, décadas depois, mas isso talvez seja assunto para outro artigo.
Outra frase que ouvi e da qual sempre vejo evidências de sua veracidade é a seguinte: "Decadência só tem começo." Essa sentença, proferida pela avó de um grande amigo, é uma das frases mais impressionantes que já escutei. Ela resume uma verdade muito palpável e sequer precisa de explicação. Quando algo começa a ficar ruim, pode piorar, sempre pode. Portanto, afaste-se da decadência para não decair com ela.
Meu pai, um homem de frases simples e marcantes, que fez sua vida como funcionário do extinto DNER, inaugurando praças de pedágio pelo Brasil, sempre me dizia que "quem oferece não quer dar." O que ele queria dizer com isso é que devemos ser gentis e prestativos. Devemos fazer o bem aos outros e não apenas perguntar se alguém precisa de algo ou de alguma ajuda. Vá e faça o bem. Não pergunte se deve fazê-lo.
Quando ele faleceu, descobri quanto bem aquele homem tinha feito a desconhecidos em seu mais profundo silêncio. Foram inúmeras pessoas que apareceram em seu velório para me agradecer por algum bem que meu pai tinha feito. Histórias que só ficamos sabendo após sua morte (Mateus 6,3-4).
Por fim, para completar esta série de conselhos para uma vida mais tranquila, trago a lembrança de um querido amigo, falecido com odor de santidade e plena sabedoria aos 96 anos de idade, que sempre, ao perceber que algo me perturbava, repetia a frase de Virgílio a Dante na Divina Comédia: "non ragioniam di lor, ma guarda e passa."
Em sua obra-prima, Dante Alighieri se imagina visitando o inferno e ao perder tempo diante das almas infelizes das pessoas vis, recebe essa admoestação de seu guia, Virgílio: "Reputação deles o mundo não deixa; misericórdia e justiça os desprezam: não falemos deles, mas olha e passa." (Canto III do Inferno, no verso 51 da décima sétima tercina). Era como se dissesse a Dante para não se preocupar com coisas vis, mas seguir adiante em sua jornada de descoberta.
Todas as vezes que pratiquei em minha vida esses quatro conselhos, meu coração permaneceu tranquilo, mesmo diante de um mundo tão perturbado que nos rodeia. O primeiro conselho me trouxe a certeza de que Deus sempre cuida de cada detalhe de nossa vida, e isso já basta. O segundo permitiu-me escolher muito bem com quem divido minha vida, evitando a decadência – mesmo com elegância – que é sem fim.
O terceiro conselho é daqueles que fazem maravilhas ao nosso coração, mesmo que o alvo de nossa bondade nem perceba ou manifeste certa ingratidão. O importante é querer fazer o bem, não ser reconhecido por isso. E, por fim, quando as coisas nos perturbam, devemos apenas olhar e seguir adiante, recordando daquela primeira verdade, que Deus sempre está tramando algo, cuidando de nós.
José Caetano é jornalista, foi diretor da Agência de Notícias Zenit, trabalhou na Secretaria Extraordinária do Sínodo dos Bispos com o Papa Bento XVI e atualmente colabora no Instituto Católico de Liderança.
Conteúdo editado por: Bruna Frascolla Bloise