Sejamos sinceros: nunca se falou tanto em teoria política no Brasil e, ao mesmo tempo, nunca se entendeu tão pouco sobre o que estamos falando. Pensamentos filosófico-políticos são considerados equivalentes a ideologias e colocados na mesma mesa, como se estivéssemos nos referindo a gêneros, que só se diferenciam nas espécies, e cuja essência só se altera na forma com que lidamos com os aspectos práticos da vida em sociedade.
Não é o caso. Em cada sistema filosófico-político ou ideologia, existem princípios fundantes que fazem toda a diferença na escolha de que tipo de país ou sociedade queremos viver, com consequências importantes.
Para um progressista (e suas corruptelas como o positivismo, o marxismo, o desenvolvimentismo e até mesmo algumas vertentes do liberalismo), o progresso é uma premissa metafísica inquestionável. Ou seja, a existência disfruta de um impulso inevitável para a perfeição. Assim, o homem e a sociedade caminham para um estado de perfeição em uma sociedade sólida e estável, um reino social e ético eternos (Sittlichkeit), rompendo sempre com o passado e com todo o saber produzido pela humanidade, pois o que virá sempre será melhor que o que foi.
Esse reino é atingido por meio de processos sociais e econômicos – e não pelo homem, que se aprimora, ou por um processo da ordem do indivíduo, em complexos e inevitáveis ciclos de mudanças sociais –, sendo o ser humano apenas a engrenagem por cujo intermédio o processo se perpetua, liderado por uma elite burocrática, um grupo de demiurgos mais iluminados e esclarecidos que empurrarão a história para o seu inevitável fim, a perfeição social e humana. É isso que põe Marx e Hegel de mãos dadas! A incontrolável marcha do homem para a felicidade – para o primeiro, por meio da luta de classes; para o segundo, por meio da política. Uma elite burocrata, que organizaria a sociedade perfeita e uniforme, uma ideologia (assim como o comunismo, fascismo, nazismo, liberalismo e socialismo) que estipula a sociedade perfeita.
Parece bonito, mas... e se você discordar ou não fizer parte da elite burocrática?
O conservadorismo, por sua vez, não é uma ideologia, mas um princípio, uma mentalidade filosófica e política. Não representa um corpo dogmático fixo, não pretende forçar um modo de vida rígido, é formado por convicções que se ajustam ao tempo, crê em uma ordem transcendente de uma moral e realidade objetivas, entende a diversidade e o mistério humano, tem a convicção de que a sociedade requer uma estrutura e limites definidos de convivência.
Em cada sistema filosófico-político ou ideologia, existem princípios fundantes que fazem toda a diferença na escolha de que tipo de país ou sociedade queremos viver, com consequências importantes.
O conservador observa o fundamento da ordem social civil, o costume, a convenção e a Constituição como fontes de uma ordem civil tolerável e que servem de freio tanto para o impulso anárquico do homem como para o avanço desmedido do Estado. Desconfia da natureza humana, das instituições e da manipulação das massas. O conservador não é avesso às mudanças, mas não as recebe de forma impensada, sem observar as consequências imediatas e mediatas de cada uma de suas ações. É quem defende a liberdade humana de escolha per excellence, é o que popularmente se define por “você não me enche a paciência, que eu não lhe encho a paciência”.
Ora, são modelos sociais bem distintos, com consequências distintas e dramaticamente diferentes.
E o que chamamos de terceira via? Pois bem, a terceira via é um vazio político, não tem uma visão de mundo ou sociedade, significa apenas um grupo tentando capturar as instituições do Estado para criar políticas que beneficiem aos seus. É algo sem identidade e sem significado dogmático ou político, uma gambiarra que tenta dizer tirar o melhor de cada um, mas produz o pior de todos. É uma espécie de pato político – diz nadar, voar e correr, mas não faz nada direito e só serve de tira-gosto ao redor da mesa da boa política.
Por isso, quando falamos em formar uma nação, uma sociedade, falamos de um projeto, não de poder, mas de vida. Não podemos aderir a ideias e conceitos que busquem padronizar, uniformizar e tolher o pensamento, ao mesmo tempo em que fingem libertá-lo. Não é razoável crer que precisemos de uma elite burocrática, que saiba o que é melhor para mim, para minha família, ou qual educação eu deveria ter e como deveria viver. Não é razoável querer padronizar a sociedade e forçar a adequação de valores pessoais para que possam empurrar a história em direção a um fim no qual eu seja uma mera engrenagem a caminho de uma perfeição que só se encontra na mente daqueles “iluminados” que guiam a sociedade.
É por isso que ser conservador não é uma opção, mas uma necessidade, em um mundo a caminho do suicídio.
Arthur Machado é empresário na área da educação, MBA em Finanças e fundador da Associação Semeadora.
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