| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Foi uma honra ter servido ao Distrito Federal e ao Brasil, por dois mandatos, como senador da República. Creio ter sido motivo de orgulho com meu comportamento e minhas ações. Consegui atravessar todo o período da crise moral na política brasileira sem provocar qualquer constrangimento ético; sem mentir e sem usar demagogia; forma de corrupção que rouba a mente do eleitor e desorganiza o país.

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Entre todos os 744 eleitos desde a Constituição de 1988, consegui ser o senador que formulou e aprovou o maior número de leis, sancionadas e em vigor; o segundo, entre todos os 1544 eleitos desde 1946. Faz parte deste conjunto de 21 leis a do Piso Salarial Nacional do Professor; a lei que assegura direito à vaga para toda criança desde os quatro anos e a que obriga governos a oferecerem vaga até o final do Ensino Médio para o aluno que desejar.

Fiz centenas de discursos, milhares de artigos, mais de cem projetos de lei, além das 21 sancionadas

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Mesmo enfrentando pressões e agressões, defendi e votei sempre o que minha consciência indicava ser o melhor para o Brasil, não o melhor para minha carreira. Fiz centenas de discursos, milhares de artigos, mais de cem projetos de lei, além das 21 sancionadas. Fiquei reconhecido nacionalmente como o obstinado “Senador da Educação”; fui candidato a presidente da República com a bandeira “educação é progresso”.

Mas, apesar de reconhecido nacionalmente pelas realizações e posições como “senador realizador, combativo, coerente, honesto, corajoso”, cheguei ao final do segundo mandato com a frustração de não ter conseguido realizar ainda os sonhos que tinha ao entrar na luta política. Não consegui convencer os demais congressistas nem a população de que a educação de qualidade igual para todos é o caminho para fazer um país eficiente e justo, com alta renda e boa distribuição; também não consegui convencer que isso exige a substituição do atual sistema escolar municipal por um sistema federal. Tampouco que para construir justiça social é preciso caminhar sobre uma economia eficiente.

Leia também: Educação com igualdade ou equidade de direitos? (artigo de Maria de Fatima Minetto, publicado em 10 de dezembro de 2018)

Leia também: Esperança para a educação brasileira: práticas simples e efetivas (artigo de Márcia Teixeira Sebastiani, publicado em 18 de agosto de 2018)

Apesar dessas frustrações, não desisti; disputei as eleições de 2018 para um novo mandato. Busquei a reeleição pelo reconhecimento da população aos resultados de meu esforço no passado. Mas o eleitor queria renovar seus representantes e escolher políticos com uma “nota só”: contra a violência, o crime e a corrupção. Apesar de meus discursos, projetos de lei e meu comportamento me colocarem entre os mais comprometidos com a ética e a segurança, sou identificado como senador de outra “nota só”: a educação.

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Terminado o mandato com uma agenda mais aliviada e gratificante, continuarei no mesmo endereço de quase 40 anos atrás, com as mesmas atividades de professor e escritor, com os mesmos sonhos que me trouxeram para o Senado. Olho o futuro e me vejo continuando ainda na luta. Agradeço ao eleitor que me trouxe à trincheira parlamentar e ao eleitor que teve suas razões ao me deslocar para outras trincheiras.

Cristovam Buarque é senador pelo PPS-DF e professor emérito da Universidade de Brasília (UNB).