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Contradições dos dados industriais do Paraná

A recente divulgação das principais estatísticas de desempenho da indústria paranaense no ano de 2012, apuradas por duas pesquisas distintas, ambas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Pesquisa Industrial Mensal Produção Física (PIM-PF) Regional e Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes) –, provocou algumas perturbações nos meios especializados por identificar tendências aparentemente antagônicas: recuo de 4,8% na produção e expansão de 2,2% no emprego, contra queda de 2,7% e 1,4%, respectivamente, para o Brasil.

A explicação para essa discrepância está no uso de distintas metodologias na definição das amostras específicas de informantes, aderentes às peculiaridades das variáveis cujo desempenho deve ser acompanhado e mensurado mensalmente, nas referidas pesquisas.

A PIM-PF engloba um painel que equivale praticamente ao universo das grandes empresas, cobrindo quase 60% do valor bruto da produção da indústria (VBPI) de transformação, tanto no Brasil quanto nos estados, em atendimento às recomendações técnicas da Organização das Nações Unidas (ONU) para inquéritos conjunturais. É uma "amostra intencional" de produtos e empresas, constituída a partir da seleção, em ordem decrescente de importância, dos bens que representam no mínimo 80% do VBPI de cada ramo industrial e, na sequên­cia, das unidades locais que respondem por ao menos 70% do VBPI de cada um deles. Por esse critério, é fácil perceber que a PIM-PF não reserva qualquer espaço para a coleta de informações acerca de produtos com importância residual e de organizações produtivas de média e pequena dimensão.

Decerto, a contração do comércio internacional, determinada pela debilidade da demanda das economias avançadas, e o aprofundamento da desaceleração ocorrida na economia brasileira em 2012 afetaram, de forma mais drástica, a fabricação de bens de capital (investimento) e de insumos básicos, dominada por grandes conglomerados. É o caso da cadeia automotiva e dos ramos de papel, celulose, química e máquinas e equipamentos, no Paraná.

Em outros termos, a PIM-PF não estaria captando a ainda pronunciada expansão verificada nas atividades de bens de consumo não duráveis e semiduráveis (por exemplo, alimentos e produtos têxteis), em resposta à continuidade do vigor do volume de vendas e dos preços externos (pontualmente de alimentos) e, principalmente, ao fortalecimento do mercado interno brasileiro, impulsionado pela multiplicação da massa de salários reais (emprego e rendimentos) e do prosseguimento das políticas de inclusão social.

Já a Pimes levanta dados sobre nível de emprego, horas pagas e massa de salários nominal e real, fornecidos por uma "amostra probabilística" de indústrias, representativas da estrutura de todo o setor secundário, incluindo as atividades extrativas e, o que é mais relevante, os pequenos e médios estabelecimentos fabris.

Por esse raciocínio, a Pimes incorporaria parcela relevante da pujança atual das pequenas e médias fábricas, especialmente aquelas operantes no interior do Paraná, que respondeu pela geração líquida de quase 90% dos empregos industriais (mais nobres, com maior remuneração) com carteira assinada no estado em 2012, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregos (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é diretor-presidente do Ipardes e professor da FAE.

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