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A contrarreforma do Ensino Médio em erupção no Brasil

(Foto: Unsplash)

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O Ministério da Educação está em contínua indefinição do que pretende propor como base das melhorias essenciais na etapa mais tensa da educação do Brasil. Ao menos, 46% dos ingressantes do ensino médio não chegam ao fim com êxito. Nem mesmo fora da idade ideal. Mais preocupante ainda é que para a população mais pobre, a grande massa de brasileiros, mais de 65% dos alunos deixam a escola ao longo do ensino médio.

Além desses dados calamitosos, temos outro cenário delicado quando falamos do quesito qualidade, pois vemos que a grande maioria dos jovens e adultos chegam ao final do ensino médio despreparados para a continuidade de estudos ou mesmo para uma atividade profissional.

Os jovens sofrem pela infelicidade ao serem expostos a metodologias de ensino e estratégias curriculares arcaicas.

A Reforma do Ensino Médio proposta no ano de 2017, promulgada como a Lei 13.415/2017, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e estabeleceu uma mudança na estrutura da etapa, ampliando o tempo mínimo do estudante na escola de 800 horas para 1.000 horas anuais e definindo uma nova organização curricular, mais flexível, que contemple uma base curricular comum de 1.800 horas nos 3 anos e 1.200 horas de trilha formativa visando aprimorar os conhecimentos dos alunos em temas que os motivassem.

Passados seis anos, já estamos no terceiro governo. E mais de seis ministros de educação estiveram à frente da pasta neste período. O que vimos foi cair por terra a discussão trazida pela proposta de engajar mais os alunos e modificar a metodologia de ensino dando centro ao aluno.

A exemplo da reforma proposta por Calvino e Lutero durante a Idade Média, podemos classificar o que acontece hoje na educação brasileira como uma contrarreforma populista baseada nos chamamentos públicos – que reúnem diversos não-especialistas, todos com seus interesses pessoais para discutir temas para a evolução da educação brasileira em anos futuros.

Com a contrarreforma enviada ao Congresso Nacional, o então ministro da Educação, Camilo Santana, lavou a sua mão ouvindo com o mesmo peso categorias profissionais que estavam perdendo oportunidade de ganho, gerações que não estão preparadas para discutir uma nova realidade e propõe uma condição que sustenta o status quo.

Passados esses seis anos, período no qual o tema "educação e tecnologia" se tornou mais relevante e em que se discute o aprender versus o que se precisa efetivamente saber, voltamos à estaca zero na realidade da educação básica – etapa ensino médio.

Na busca de ser socialmente inclusivo, estamos excluindo uma oportunidade para que mais duas ou três gerações se tornem independentes e capazes de produzir, gerar renda e se valorizarem como cidadãos. O Estado se esconde atrás de chamamentos públicos para não tomar decisões difíceis de atuar sobre o cerne do problema.

A formação de professores é outro ponto que tangencia a realidade da educação ineficiente, por diversos indicadores qualitativos e quantitativos de hoje. E agora a formação de docentes e pedagogos na modalidade EaD é a grande vilã, na cabeça destes. A tese se desfaz facilmente, se lembramos que formamos professores com base em diretrizes curriculares ultrapassadas e que há profissionais ruins e despreparados desde antes de existir a formação à distância.

Criar demônios para serem exorcizados é a prática de líderes populistas incapazes de resolver o real problema e que trazem problemas paralelos para distração da mídia e da população, ao ganhar tempo na incapacidade de realizar o que precisa. “Pão e circo”, “lavo minhas mãos”, “o status quo versus a inovação de abordagem” são as mensagens mais vistas no setor educacional, que deveria ser o mais estratégico para transformar realmente o país. A nação envelhecerá pobre e, assim, a falta de capacidade dos gestores públicos ficará submersa nos desafios sociais contínuos e mundanos. Nem Calvino, nem Lutero, nem Pilatos, nem Santo Inácio de Loyola esperavam que chegássemos ao Século XXI com estes dilemas tão importantes.

Ao ver que os jovens sofrem pela infelicidade ao serem expostos a metodologias de ensino e estratégias curriculares arcaicas, enquanto professores são formados com foco em conteúdos (dos quais desconhecem a maior parte) e nem apresentam visão para trabalhar temas transversais, percebemos que estamos longe da possibilidade de ter nas escolas o local de formação de lideranças e exponenciais de inovação.

Francisco Borges é mestre em Educação e consultor da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT).

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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