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Opinião do dia 2

Conveniência do segundo turno

Se nós, caros leitores, imaginávamos que nossa capacidade de indignação já tinha ultrapassado todos os limites, podemos tirar o cavalo da chuva. O PT, os assessores e amigos do presidente Lula demonstraram, mais uma vez, sua infinita capacidade de surpreender a sociedade brasileira.

Eleito para moralizar a vida partidária do PT depois do terremoto do mensalão, o presidente do partido, Ricardo Berzoini, está no epicentro do maior escândalo da campanha eleitoral. A revista Época revelou que foi procurada pelo petista Oswaldo Bargas, ex-secretário do Ministério do Trabalho e responsável pela elaboração do capítulo de Trabalho e Emprego do programa de governo de Lula, que ofereceu um dossiê contra o candidato a governador de São Paulo, José Serra, e o ex-ministro da Saúde Barjas Negri. Segundo a Época, Bargas – que estava acompanhado de Jorge Lorenzetti, também vinculado à campanha de Lula – disse que Berzoini foi avisado do encontro, embora supostamente desconhecesse o conteúdo do dossiê. Além de Berzoini, já haviam sido envolvidos no episódio dois amigos de Lula – Freud Godoy e Jorge Lorenzetti – que trabalhavam no Palácio do Planalto ou em seu comitê de campanha. Em nota divulgada, Berzoini, que dias antes ocultara seu conhecimento do assunto, admitiu que tinha sido informado do encontro de Bargas com um repórter da revista, mas sustentou a versão de que não sabia o que seria conversado na reunião.

Inúmeras perguntas, feitas pelo jornal O Globo, estão sem resposta:

– Quem autorizou Jorge Lorenzetti, curiosamente denominado analista de risco e mídia da campanha de Lula, a negociar a compra de dossiês contra Serra e Alckmin?

– Como Berzoini pode saber da reunião de Jorge Lorenzetti com um jornalista da revista Época e não saber do que foi tratado lá?

– Por que um funcionário da secretaria da Presidência (Freud Godoy) estava encarregado de ações rigorosamente partidárias, como cuidar da segurança do comitê de Lula? Por que Lula não evitou essa promiscuidade ilegal?

O episódio, mais um, de uma sucessão estarrecedora de escândalos, segue invariavelmente o mesmo roteiro. Nega-se a evidência. Comprovado o fato, assume-se um eventual erro, mas jamais a prática de um crime. E o presidente da República, após a encenação de um discurso moralizante, acaricia a cabeça dos criminosos, os acolhe no seu palanque eleitoral e joga a ética, a verdade e a decência na lata de lixo da vida pública. Diante do envolvimento crescente de homens de confiança de Lula, o corregedor geral da Justiça Eleitoral, César Rocha, decidiu abrir investigação contra o presidente da República, seu ministro da Justiça, Berzoini e outros petistas.

O presidente da República, lamentavelmente, é o grande responsável pela crise moral que devasta a política brasileira. Supondo que Lula não tenha sido informado deste novo capítulo de delinqüência eleitoral, mesmo com tanta gente ligada diretamente a ele envolvida, sua aberta leniência com os delitos configura crime de responsabilidade. O primeiro aval do presidente da República aos desmandos de todo tipo foi dado em sua famosa entrevista concedida na Embaixada da França em Paris. Naquela ocasião, penosa e constrangedora, o presidente da República justificou o dinheiro que circulou do PT para os partidos aliados como sendo de caixa 2 de campanha eleitoral, "o que se faz tradicionalmente no Brasil." Lula justificou e deu sua chancela para a prática do crime.

O Brasil foi irresponsavelmente atirado na sua pior crise ética. O presidente Lula, ausente dos debates e da necessária acareação com a verdade, precisa mostrar sua verdadeira face. Ele deve, como presidente e candidato, inúmeras respostas à sociedade. Eleito no primeiro turno, Lula não só não responde, mas, o que é pior, canoniza a política do vale-tudo, dá um tiro de morte na ética e na cidadania. Impõe-se, por isso, o segundo turno. Caso contrário, mergulharemos no pântano do cinismo que, certamente, não é o melhor companheiro para a viagem democrática.

Carlos Alberto Di Franco é diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, e diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia.

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