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Conversando sobre o papa Francisco

Por estes dias o papa Francisco já se encaminha para o fim de sua visita a Cuba e Estados Unidos. Neste domingo ele estará presente ao Encontro Mundial das Famílias, na cidade da Filadélfia. A cada viagem deste homem multiplicam-se os artigos, seguem as análises de toda ordem, elencam-se as concordâncias e discordâncias. Os entusiastas festejam, os críticos tudo observam, as mentes conservadoras murmuram por não ter ele condenado esta ou aquela ideologia. Há quem lhe tenha assacado o título de marxista. Alguns mais furiosos, encolerizados, dizem que estamos ante um papa não católico. Há pareceres de todas as cores, pendores e favores.

Dentre as muitas linhas lidas, agradou-me o que escreveu David Brooks. Gostei de sua percepção refinada. Seu escrito leva o seguinte título: “Bergoglio, o príncipe do povo”. Mais do que pronunciamentos doutrinais e exortativos, o jornalista percebeu o melhor que Francisco tinha a oferecer: sua pessoa e “sua maneira de ser”. Enfatizou que o mais comum entre os setores de imprensa é cobrir toda a indicação sobre o aborto, o casamento gay, o aquecimento global e o divórcio, e tantos outros temas candentes na atualidade.

Não é a completude teórica que transmite o amor. O amor se transmite por si mesmo

Entretanto, pensa o articulista, parece importante aprender a perceber a grandeza do homem Bergoglio. Destaca que este papa anda inquieto com “sistemas intelectuais abstratos que falam de cruas generalidades, instrumentalizam os pobres e ignoram a rica natureza peculiar de cada alma e de cada situação”. Não agradam a Francisco as afetadas teorizações sobre os grandes temas, pois é forte o risco de aprisionarem-se em narrativas gastas.

Não respondemos suficientemente aos desafios das situações e da história apenas estudando-os. O escritor percebe que, com seu modo de ser, o papa recomenda aos católicos que não se ama Jesus estudando-o; que não se ama o próximo com esquemas hermenêuticos. Todas as verdades são verazes na medida em que suscitam vivências e experiências que nos aproximam de Jesus Cristo. O papa toma o exemplo de Maria de Nazaré: “Se vocês quiserem conhecê-la, perguntem aos teólogos. Se quiserem saber como amá-la, perguntem ao povo”.

Assim como o elitismo material ameaça a espiritualidade, a mesma ameaça pode vir do elitismo intelectual. Daí que os modos ternos de falar de Deus parecem ser referenciais mais compreensíveis para a linguagem da evangelização do que a abordagem conceitual. Não é a completude teórica que transmite o amor. O amor se transmite por si mesmo. Precisamos aprender e aceitar que Francisco prefere muito mais os gestos do que as sistematizações.

Nos últimos meses houve quem tenha se inquietado com algumas formas pouco tradicionais para um papa, no seu modo de expressar-se. Sua linguagem rica de exemplos e comparações parece afrouxar a profunda coerência teológica do cristianismo... Outros insatisfeitos afirmam que da parte de Francisco as críticas aos esquemas pecaminosos da decadente cultura ocidental são muito brandas. Mas o perspicaz jornalista lembrou que agrada muito ao titular de Roma partir da beleza humana para falar de Deus. Eis o que cravou do papa: “Vejo a santidade na paciência do povo de Deus: a mulher que cria os filhos, o homem que trabalha para levar o pão para casa, os doentes, os sacerdotes idosos com todas as suas feridas, mas que conservam um sorriso no rosto”. Que bela teologia!

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