Mesmo com a educação sendo um dever do Estado, experiências como a dos Estados Unidos sugerem que toda a sociedade se beneficia e avança mais rápido quando as empresas privadas aumentam o seu envolvimento e contribuição nas áreas da educação e pesquisa científica. Só para ser ter uma ideia, 70% das pesquisas científicas nos EUA recebem recursos de empresas privadas. E essa realidade pode ser traduzida em números. A maior economia do planeta atribui mais de metade do seu enriquecimento às inovações tecnológicas, apoiadas pela ciência.
É fato que a iniciativa privada, no Brasil, não tem tradição de apoiar a educação. Por aqui existem contradições que se somam, também, a alguns tabus e impasses legais. Este panorama poderia ser outro, pois qualidade não nos falta. Do ponto de vista de sua produção, o Brasil pode ser considerado uma potência científica. O país é hoje o 13.º maior produtor de artigos científicos em todo o planeta, segundo dados do Clarivate Analytics, órgão de pesquisa especializado em educação. Não é pouco, e temos cientistas exemplares por aqui. Atualmente, 12 pesquisadores brasileiros estão entre os mais influentes do mundo em suas respectivas áreas de conhecimento. A lista, também produzida pela Clarivate Analytics, considera o número de citações por artigos publicados em um período de dez anos.
Ainda há muita burocracia e amarras legais para que a relação entre setor privado e universidades ocorra de forma mais fluida, além de preconceito de uma parcela dos cientistas
Então, o que nos falta? Precisamos, de fato, nos inspirar na realidade mais expressiva do continente, a norte-americana. E um dos motivos essenciais para incentivar companhias brasileiras a financiarem estudos científicos está no fato de que dar incentivo à educação é apoiar o desenvolvimento e o bem-estar social. Nossa empresa, por exemplo, apoia pesquisas em cerca de 20 universidades brasileiras públicas e privadas e nas principais faculdades de Odontologia do mundo, além de participar ativamente de cursos de formação de implantodontistas. Nos últimos dez anos, mais de R$ 25 milhões foram investidos dessa forma.
Ainda assim, fortalecer os laços entre a iniciativa privada e a academia requer uma série de ações. A começar, necessitamos de um debate intenso em torno do tema, para melhoria dos processos. As universidades públicas respondem, atualmente, por 95% da produção científica nacional. Injetar recursos para amplificar o desempenho e o alcance desses trabalhos, no entanto, esbarra em alguns entraves.
Para um país que sonha em ter 2% de seu PIB destinado à ciência, a estruturação efetiva dessa união de forças é recente. O país ganhou, em 2004, a Lei da Inovação, seguida pelo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, que se concretizou 12 anos mais tarde, em janeiro de 2016, com sua regulamentação, via decreto, em 2018. A Lei da Inovação tem o objetivo de incentivar a conexão entre universidade, centros de pesquisa e as empresas. Para tanto, foram estabelecidos mecanismos de incentivo e cooperação para a produção científica e tecnológica.
Leia também: Inovação e ciência brasileira: uma reflexão pessimista (artigo de Marcelo Lima, publicado em 9 de setembro de 2017)
Cristovam Buarque: O "suissinato" das universidades (22 de setembro de 2017)
Sabemos que a cooperação das empresas é uma forma de financiar pesquisas e colocar pesquisadores em contato com problemas importantes para a sociedade, o que é, em última análise, a razão de ser das universidades. Porém, ainda há muita burocracia e amarras legais para que essa relação ocorra de forma mais fluida, além de preconceito de uma parcela dos cientistas.
Apesar desses entraves e preconceitos, felizmente, os projetos feitos a partir da parceria entre empresas e universidades estão crescendo no Brasil. O momento é mais que propício para iniciarmos um debate mais amplo, a fim de que a colaboração entre empresas e universidades ocorra de modo mais ágil e consistente. Afinal, organizações que investem em parcerias com o ensino superior ajudam no desenvolvimento sustentável, e ainda apostam na evolução do conhecimento e na inovação. Fazendo assim, as companhias vão efetivamente construir um ciclo virtuoso, que transforma o ensino e a pesquisa, e contribui para o desenvolvimento não apenas daquela empresa, mas de toda a cadeia produtiva e da sociedade como um todo.
Felipe Leonard é presidente e CEO da S.I.N. Implant Systems.
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