O coronavírus chegou com tudo. A população está assustada e o pânico é, de longe, o principal aliado do inimigo que pôs o mundo de joelhos, mostrou o tamanho da fragilidade humana e a miragem de tantas prepotências. Regiões inteiras do mundo estão isoladas. O globalismo recua e fecha fronteiras. Os mercados afundam. Museus estão vazios. Estádios de futebol perderam brilho, colorido e vibração. O Vaticano está mergulhado num silêncio que assombra. O papa, em uma de suas falas expressivas, está “enjaulado” no Palácio Apostólico.
Imagens de praças, ruas e avenidas fantasmas e de um mundo vestido de vazio reforça o pavor que boatos e notícias alarmantes na era das redes sociais amplificam barbaramente. Vídeos e informações irresponsáveis podem matar. A luta contra o coronavírus depende da competência, da capacidade estratégica e da seriedade das autoridades sanitárias. Mas a guerra – e estamos mergulhados num campo de batalha sem precedentes - só será ganha na trincheira da comunicação.
A informação é sempre fundamental. E ela precisa ser confiável, clara e segura. Não é hora de grotescos campeonatos de egos e vaidades. Não é o momento de subir na passarela da mídia para desfilar currículos vistosos. Não mesmo.
A doença em si, segundo os melhores especialistas, não tem a gravidade que o imaginário popular percebe. Não se trata de um grande problema de saúde individual, mas pode ser um brutal desafio de saúde pública. Do ponto de vista sanitário (as quarentenas, os cancelamentos de eventos, suspensão de aulas, planos de contingência) fazem todo sentido. São medidas que visam diminuir a velocidade com que a epidemia se alastra, de modo que os serviços de saúde não sejam colapsados por uma over demanda.
Os idosos devem ter cuidados especiais. Dos 10 aos 49 anos, a taxa de letalidade varia entre 0,2% e 0,4%, com salto para 1,3% nos pacientes entre 50 e 59 anos. Na faixa etária entre 60 e 69 anos, o índice é de 3,6%. O número sobe para 8% em infectados de 70 a 79 anos e chega a 15% entre os que têm mais de 80 anos. Os dados são do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China.
A taxa de mortalidade é até nove vezes maior entre pessoas com alguma doença crônica quando comparada à de pacientes sem patologia preexistente. Segundo dados do governo chinês, no grupo de infectados que não tinham nenhuma comorbidade, apenas 1,4% morreu. Já entre os pacientes com alguma doença cardiovascular, por exemplo, o índice chegou a 13,2%.
Estamos diante de um dos maiores desafios de comunicação da história. E o jornalismo de qualidade exerce um papel decisivo. É preciso informar com clareza e equilíbrio. Ouvir fontes confiáveis e passar informação rigorosa. Transparência informativa, rigor sem alarmismo e didatismo compõem a chave do sucesso.
É decisiva a cobertura da mídia tradicional. Pode ser uma lufada de ar fresco num mundo dominado por tanta desinformação. É preciso avançar e apostar em boas pautas. É melhor cobrir magnificamente alguns temas do que atirar em todas as direções. O leitor pede reportagem. O lugar do repórter é na rua, garimpando a informação, prestando serviço e contando boas histórias. Elas existem. Estão em cada esquina das nossas cidades. É só procurar.
Antes os periódicos cumpriam muitas funções. Hoje não cumprem algumas delas. Não servem mais para contar o imediato. E as empresas jornalísticas precisam assimilar isso e se converter em marcas multiplataformas, com produtos adequadas a cada uma delas.
Quando se escrever a história deste momento da humanidade - único, dramático e transformador - brilhará com força a chama da imprensa de qualidade. Muitos jornalistas estão dedicando a vida e correndo riscos para que você, amigo leitor, possa resguardar sua família com a força da informação correta e bem apurada. Que Deus proteja a todos nós!
Carlos Alberto Di Franco é jornalista.