Não só neste momento de pandemia, mas principalmente agora, tenho recebido diversas sugestões sobre o transporte coletivo. Ocorre que muitas das respostas são complexas, pois exigem um conhecimento mais amplo de todo o sistema e, muitas vezes, o que parece simples não é. Porém, dentre todas as sugestões e pedidos, existe um muito frequente: mais ônibus. Sendo assim, acho que vale a pena passarmos um tempo refletindo sobre esse assunto.
Em primeiro lugar é preciso reconhecer que os ônibus não andam cheios. Pelo contrário. Na maior parte do tempo eles estão vazios. Porém, sabemos que, durante um curto período do dia, que chamamos de “horários de pico”, os veículos trafegam muitas vezes com sua capacidade máxima. Esses picos são muito pontuais e não representam a realidade de todo o sistema. Fora desses horários, em dias normais, dificilmente um ônibus trafega com sua lotação de banco. Neste momento de pandemia, então, muitos estão trafegando literalmente vazios.
Em segundo lugar, é preciso compreender também que, em se tratando da Região Metropolitana de Curitiba, nossos ônibus percorrem grandes distâncias, que as vezes chegam a 80 quilômetros. Isso quer dizer que um veículo que atenda uma demanda em um horário de pico dificilmente conseguirá completar o seu trajeto, voltar ao ponto inicial e realizar outro atendimento no mesmo período de pico. Ou seja, ele irá realizar uma viagem com sua capacidade máxima e depois disso circulará vazio.
Este fato, em tempos normais, faz com que a partir das 9 horas, aproximadamente, dependendo do município, 50% da nossa frota retorne para as garagens. Ai é preciso compreender também que, quando falamos de veículos, temos incluídos cobradores e motoristas, parados e gerando custos para o sistema. Esse custo é significativo e cruel. Estamos pagando para ficar parados.
Portanto, considerando as colocações acima, vemos que a grande questão não é colocar mais ônibus, mas o que fazer com estes ônibus depois do horário de pico e, principalmente, quem irá pagar por eles. Não existe mágica. Esse custo vai direto para a tarifa. E aí entramos num “dogma”, pois, hoje em dia, aumentar a tarifa é praticamente uma guerra civil – e eu até concordo, pois existem duas alternativas para essa questão.
A primeira alternativa é darmos mais velocidade ao sistema. Com isso, muitos ônibus que atendem o horário de pico conseguiriam realizar o trajeto, voltar e novamente atender a demanda no mesmo período. Isso se chama otimização da frota. O problema é que, para isso, precisaríamos implementar mais faixas exclusivas e, apesar dos avanços realizados nos últimos anos, ainda temos muito, mas muito a avançar nesse sentido.
A segunda alternativa é fazer com que as pessoas usem o transporte em horários alternativos, evitando os horários de pico. Assim fracionamos a demanda, diminuímos a lotação em horários específicos e equilibramos o sistema nos demais horários.
Agora, vejam os leitores que interessante. As duas soluções acima apresentadas não exigem qualquer investimento ou custo para o sistema. Pelo contrário, geram economia. Mas exigem uma mudança comportamental da sociedade. E isso é muito difícil de ocorrer. Flexibilizar o horário de trabalho de seus funcionários e deixar de utilizar seu veículo particular são coisas em que a sociedade segue relutando.
Eu espero que toda essa pandemia nos ajude a enxergar melhor a situação do próximo e que a sociedade retorne disso tudo disposta a mudar paradigmas como estes. Sei que não é uma mudança fácil. Mas é necessária. E é urgente.
Gilson Santos é presidente da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec).
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas