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A corrupção petista, o derrotismo tucano e o bolsonarismo histriônico

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Imagem ilustrativa. (Foto: Antonio More/Gazeta do Povo / arquivo)

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Os fenômenos políticos não acontecem por acaso; possuem causas expostas ou motivos silenciosos. Logo, a decadência institucional brasileira não nasceu ontem; vem de longe, trazendo consigo sintomas e males de uma patologia democraticamente fatal: o progressivo e reiterado afastamento dos bons e capazes das lides do poder. Por força desse distanciamento virtuoso, o Brasil atual é fruto de uma decisão deliberada (de muitos) para entregar a democracia nacional à marcha deletéria dos medíocres. Registrado o statement, vamos, então, aos fatos.

Segundo algumas análises, o bolsonarismo traduziria reação os desmandos do PT, em especial à grave corrupção sistêmica dos famigerados “mensalão” e “petrolão”. Sim, o carnaval da desonestidade pública despudorada – a ensejar a significativa Operação Lava Jato (hoje com fim melancólico) – foi um game changer da democracia no Brasil. Embora certas forças imorais ainda insistam com candidaturas profanas, é absolutamente vexatório, para não dizer humilhante, ver se defrontarem com lembranças da prisão ou com delações premiadas de corruptos e corruptores que confessaram delitos e devolveram bilhões de recursos públicos ilicitamente desviados. Portanto, é indubitável que o desgoverno petista estimulou o surgir bolsonarista; todavia, não é sua causa singular.

As eloquentes manifestações cívicas de 7 de setembro demonstram que o bolsonarismo é uma força viva e popular da política brasileira, apresentando possibilidades reais de reeleição.

Objetivamente, os recorrentes insucessos eleitorais do PSDB também tiveram importância primordial no desdobrar dos acontecimentos políticos brasileiros. Sem cortinas, após correr páreos sucessivos com José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves, os tucanos naufragaram entre a estafa e a desunião vaidosa. Após os governos de FHC, jamais houve coesão partidária e firmeza de convicção interna à construção de projetos eleitorais vencedores. Fraturas femorais e diferenças irreconciliáveis foram gradativamente diminuindo a densidade do partido, erodindo seu núcleo de ação política. Em tempo, não é de duvidar que a frustrada candidatura de João Dória seja a cena final de um partido fundamental à construção do Plano Real e da tão desejada estabilidade econômica.

A eleição de 2018 foi, assim, em sua essência, um grito de “basta!” à política em curso. Entre a corrupção delirante e a inação derrotista, o tablado central viu surgir uma espécie de anticandidato que carregou consigo a raiva profunda contra o sistema posto. O problema é que, uma vez eleito, não bastam gritos para bem governar. E, sem a honra da palavra empenhada, é impossível passar confiança e credibilidade ao povo.

Ao vencer o pleito, as linhas de sustentação do bolsonarismo estavam eleitoralmente assentadas em três eixos principais: (1) rompimento com o chamado “Centrão” e demais forças do pântano político; (2) a assunção de Sergio Moro na pasta da Justiça representaria a continuidade do firme combate à corrupção; e, (3) na Economia, o ministro Paulo Guedes asseguraria um liberalismo autêntico no país, em favor da abertura de mercado, da competitividade concorrencial e do fim ao estatismo ultrapassado. As expectativas de transformação e renovação da política eram grandes, sendo de intuir que o descumprimento das promessas geraria frustrações profundas.

Passados quatro anos, transitando entre o vale triste e mortal da pandemia de coronavírus, chegamos a um imprevisível embate eleitoral em 2022. Apesar do fracasso inconteste de muitas pautas governamentais, as eloquentes manifestações cívicas de 7 de setembro demonstram que o bolsonarismo é uma força viva e popular da política brasileira, apresentando possibilidades reais de reeleição. Alguns, que repudiam o tosco comportamento presidencial, ficam a se perguntar: como pode fascinar a tantos? Ao mesmo tempo, outros se questionam: como pode Lula ser candidato novamente?

No meio dessa grande e trágica confusão, o povo será chamado a votar entre opções pouco animadoras. Atentada “terceira via” ficou pelo caminho, mostrando que a moderação racional cedeu campo a extremos exaltados. Sem luzes nem lustros, o lulismo e o bolsonarismo são forças de base popular, com abordagens, bandeiras e mensagens distintas. Tal fato expõe uma democracia viva no Brasil; se qualitativamente baixa ou moralmente insatisfatória, é porque aqueles que a poderiam elevar estão fora do jogo. As ideias em torres de marfim enobrecem, mas é a crueza da realidade que materializa as possibilidades efetivas do poder.

Quanto ao futuro, a política, não raro, é paradoxal: vitórias – pelo desgaste de ser governo – podem representar o começo do fim, enquanto derrotas podem fazer do revés momentâneo a força estrutural de projetos hegemônicos duradouros. Será preciso viver para ver. Nas dúvidas do hoje, a certeza de um Brasil dividido por perigoso facciosismo político.

Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr. é advogado e conselheiro do Instituto Millenium.

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