Os protestos ocorridos no fim de semana na Holanda, Bélgica, Áustria e outros pontos da Europa contra os novos lockdowns e medidas restritivas decorrentes da nova onda do Covid-19 constituem um alerta para o mundo, inclusive o Brasil. Vivemos aqui quase no novo normal, faltando apenas abolir a máscara para se ter a sensação de que a pandemia já acabou. Mas vêm aí as festas de Natal e ano novo e, principalmente, o carnaval, quando a aglomeração e as práticas tradicionais da época poderão conduzir, também, a uma nova onda de infestação.
Com mais de 300 milhões de doses de vacina aplicadas (73,3% do público-alvo) e a baixa das internações e óbitos, temos, efetivamente, o que comemorar. Apesar do papelão feito pelos políticos – que passaram o tempo todo tentando converter a desgraça sanitária em votos –, fomos beneficiados pela experiência e cultura brasileira de vacinação, que vem se aprimorando desde o começo do século passado, quando Oswaldo Cruz usou o sistema para combater a febre amarela e enfrentou protestos populares contra a novidade imposta.
Não temos visto, no entanto, orientações quanto a cuidados para evitar uma possível nova onda ou – o pior – uma cepa mais potente do coronavírus. As famílias não têm certeza e esperam a palavra – não as conhecidas ameaças e restrições – das autoridades sanitárias para saber até onde podem e devem baixar a guarda nas festas de fim de ano. O carnaval, por seu turno, já se tornou objeto de discussão entre contrários e favoráveis. Os dois lados têm mil razões tanto para fazer quanto para não fazer a festa. O importante, no entanto, é aparecer alguém de bom senso, que não esteja em nenhum dos lados, com credibilidade para orientar sobre os limites de segurança.
Se, por ignorância ou falta de cuidados básicos, tivermos de enfrentar nova onda do Covid-19, como a que hoje ocorre em vários países, será muito ruim porque, além do sofrimento, perda de mais vidas e do problema econômico, muitos passarão fome e o governo terá de, além de manter, ampliar os programas sociais de emergência. E tudo tem um limite, inclusive o cofre do Tesouro.
O que se passa na Europa demonstra que o cidadão comum não suporta mais as restrições, especialmente aquelas que impedem o acesso ao trabalho e à renda. É por isso que precisamos prevenir para não ter de remediar. Não vamos esquecer, por exemplo, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) continua desaconselhando as aglomerações e que, pela sua natureza, carnaval sem aglomeração não existe.
O estágio em que hoje nos encontramos é resultado de muito esforço. Por isso é que temos o direito (até o dever) de adotar todos os procedimentos para não perder essas conquistas. Por uma razão de segurança, devemos evitar aglomerações. E, como o carnaval – que acontece por cinco dias em todas as cidades e até por 15 em algumas – é pura aglomeração, o melhor é não realizá-lo. Deixar para o futuro, quando a pandemia estiver completamente controlada ou até eliminada definitivamente.
Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da PM paulista e dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil).
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