Centro de São Paulo, na região da cracolândia.| Foto: Rovena Rosa/Arquivo/Agência Brasil
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A inauguração da Sala São Paulo, na região da Luz, em 9 de julho de 1999, foi o ponto culminante de um processo de recuperação do Centro, que começou em 1995. A Pinacoteca, a restauração do antigo prédio do DOPS, a Universidade Livre de Música e o Projeto Guri, todos recém-instalados na região, em plena Cracolândia, marcavam uma direção a seguir. A região estava sendo recuperada e crianças brincavam na Praça Júlio Prestes, onde havia feiras de livros, de automóveis e apresentações artísticas todos os finais de semana.

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Em 2002, a Secretaria de Estado da Cultura, que liderava esse processo, decidiu instalar uma linha de bondes turísticos, ligando todos esses prédios à estação da Luz. O bonde foi comprado e os trilhos colocados, mas, em janeiro de 2003, com a mudança da administração, tudo foi esquecido.

A maior parte dos viciados que ocupavam a região, já conhecida como Cracolândia, vivia em hotéis instalados em prédios antigos e semiarruinados. Carentes de tudo, os moradores desses locais depenavam os quartos e removiam o que pudesse ser vendido e trocado por uma pedra de crack: fios de cobre, interruptores, lâmpadas, peças de banheiro.

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O resultado é que, nesses hotéis, não havia luz e o abastecimento de água era precário. Eram verdadeiros pardieiros. O poder público, para combater essa situação, resolveu colocar a Vigilância Sanitária em ação para fechar os hotéis irregulares, que eram quase todos. Sem os hotéis, aquela população foi para a rua.

Em 2005, foi lançado o projeto da Nova Luz, que previa a desapropriação de quarteirões inteiros para dar lugar a novas construções e revitalizar a região. A intenção era excelente, mas não podia ter dado mais errado. As desapropriações demoraram muito mais que o previsto, e a Prefeitura, temendo invasões, foi demolindo os imóveis desapropriados o mais rapidamente possível, assim que tomava posse. Quarteirões inteiros foram abaixo, mas, no final, o processo emperrou. O resultado foi que o movimento do pequeno comércio e das moradias, que davam vida à região, ainda que decadentes, foi eliminado. Sem a população que trabalhava e circulava, as ruas ficaram desertas, e a Cracolândia se apropriou do espaço.

A última pá de cal para a região foi outro projeto grandioso, o Teatro de Dança, um megacentro cultural que teria 130 mil m² de área construída, maior que o Lincoln Center em Nova York. Foram desapropriados a antiga Rodoviária, que abrigava um shopping popular, prédios de apartamentos e muitos imóveis comerciais, em dois quarteirões. Com a rápida demolição desses edifícios, a região ficou ainda mais deserta. Restou apenas a Sala São Paulo.

O projeto da Nova Luz foi cancelado definitivamente em 2013 e o Teatro de Dança logo depois. Sem prédios e sem gente circulando nas ruas, a Cracolândia ficou sozinha e tomou conta deste belo trecho da cidade, cenário de muitos acontecimentos marcantes na história de São Paulo.

José Roberto Walker, publicitário e produtor cultural, é diretor da Retrato BrandStore e diretor executivo do projeto Orquestrando. Foi diretor da Fundação Padre Anchieta – TV Cultura de 2004 a 2007 e de 2013 a 2019.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]