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Apesar do cenário de incerteza política, altas expressivas dos juros e inflação, o Brasil deve terminar o ano de 2022 com superávit primário, o que pode favorecer o país no combate ao aumento dos preços e possível estagnação econômica. Mas, indo além do cenário político em que vivemos atualmente, é importante avaliar a forma como a iniciativa privada, em especial o mercado de capitais, tem contribuído para o crescimento do nosso país ao longo dos anos.
Quando comparamos o crescimento do PIB atual e o de dez anos atrás, vemos que há uma diferença entre a composição do ganho de cada ponto percentual nos dois períodos. Basicamente, o motivo disso é a mudança no mix de composição entre o investimento estatal feito com emissão de dívida pública e o crescimento dos financiamentos da iniciativa privada, através do acesso das companhias ao mercado de capitais.
Apesar de todas as adversidades, o Brasil vem prosperando economicamente, e as reformas estruturantes são primordiais para que o crescimento continue.
Em 2016, a captação total de recursos via mercado de capitais doméstico foi de R$ 126,5 bilhões, o equivalente a 2% do PIB. Em 2021, esse valor é de R$ 596 bilhões (6,9% do PIB). Já o desembolso anual de crédito do BNDES passou de 3,17% do PIB em 2011 para 0,74% do PIB em 2022.
Isso demonstra que o mercado de capitais no Brasil vem apresentando forte crescimento nos últimos anos e se consolidando como alternativa frequente de financiamento para companhias, o que tem sido positivo para o país.
Ainda, quando olhamos os indicadores de formação bruta de capital fixo (FBFC), vemos que os índices têm crescido (de forma cíclica), mesmo com o advento da pandemia e pelas incertezas político-econômicas que permeiam o nosso país, sustentados pela melhora da qualidade dos investimentos privados.
A combinação desses fatores mostra uma mudança de paradigma no padrão de crescimento de nosso PIB. É como diria William Thorndike Jr, em seu livro O poder de pensar fora da caixa: “A alocação eficiente de capital é a principal ferramenta para que nações e empresas naveguem por marés altas e baixas de forma contínua”. Apesar de todas as adversidades, o Brasil vem prosperando economicamente, e as reformas estruturantes são primordiais para que o crescimento continue. É verdade que muitas vezes a velocidade com que elas acontecem (ou não acontecem) frustram a população, mas estamos trilhando um caminho promissor.
Portanto, é nosso dever como agentes de mercado continuar empregando os nossos melhores esforços para conectar o mercado de capitais e fontes alternativas de financiamento com empresas que possuem menos avenidas de acesso ao mercado e que, se bem assessoradas, podem obter melhores condições de crédito para seu crescimento.
Os dirigentes do país têm o dever de trabalhar para que o BNDES seja realmente um banco de fomento e alcance o pequeno e médio empreendedor empregando seus recursos de maneira pulverizada e de fácil acesso aos tomadores.
Lucas Simionato, é diretor de Agronegócios da Alvarez & Marsal, é formado pelo Insper com especialização em Finanças Corporativas e Soluções de Capital pela Tulane University e Prospect ao IFL-SP.