Pensei em escrever sobre a morte do cinegrafista da Band, mas Dora Kramer o fez antes com brilhantismo de forma e conteúdo: "O cinegrafista Santiago Ilídio Andrade (...) morreu assassinado pelas mãos do mascarado que atirou um rojão a esmo incentivado pela glamourização dos atos de vandalismo, cuja repressão vem sendo sistematicamente condenada por uma parte da sociedade que enxerga na violência uma forma legítima de protesto e não reconhece que o uso da força é dever do Estado quando em risco está a ordem pública".

CARREGANDO :)

Em seguida, um editorial desta Gazeta do Povo desnudou esse namoro suicida entre, de um lado, uma parte da elite intelectual brasileira, incluindo setores da imprensa, especialmente o que ainda não comeu sal o suficiente para realmente entender o processo social e político e se deixa levar por slogans e raciocínios simplistas; o extremismo de partidos ou grupelhos de esquerda sem voto popular, mas dotados de invejável capacidade de destruição e desordem; e, por fim, uma multidão de indivíduos dessocializados, transformados pelos outros dois grupos em massa de manobra, prontos a participar das "manifestações" em troca de um pagamento diário e de um lanchinho, como se a atividade política não fosse mais que um biscate, igual a tantos outros.

A intimidação pela violência contra adversários políticos sempre foi um instrumento poderosíssimo para implantar e manter regimes de opressão. Estudar um pouco da história mundial do século 20 não faria mal algum a várias vozes que se erguem em tom pomposo em "defesa da liberdade de expressão", quando na realidade estimulam e glamourizam o acovardamento do Estado e da população ante a agressividade desses grupos minoritários. As fasci di combatimmento fascistas e as SA-Sturmabteilung (os camisas pardas) nazistas eram membros indispensáveis da camarilha mussolinista e hitlerista para agredir os adversários, promover badernas e provocar tumultos e quebradeiras.

Publicidade

Um pouco mais de leitura sociológica também ajudaria as mesmas mentes. Por que não o clássico de Robert Michels, publicado no Brasil sob o nome insípido, inodoro e incolor de A Sociologia dos Partidos Políticos? Ele cunhou a tão conhecida Lei de Ferro das Oligarquias, segundo a qual os mecanismos de atuação democrática são utilizados para deturpar a verdadeira democracia e perpetuar o poder das elites políticas dirigentes.

A morte do cinegrafista teve o condão de despertar em todos os espíritos pacíficos a dúvida cruel: amanhã não serei eu, minha família, meus filhos e netos que sofreremos as consequências dessa mistura letal de barbárie com esperteza, leniência e pusilanimidade política dos governantes e das elites?

Cría cuervos y te sacarán los ojos, dizem os espanhóis. É hora de nos livrarmos dos corvos que estão nos comendo os olhos, antes que as almas crédulas sintam pena dos pobres bichinhos e se enamorem deles.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

Dê sua opinião

Publicidade

Você concorda com o autor do artigo? Deixe seu comentário e participe do debate.