No Brasil, a decisão do presidente Jair Bolsonaro de retirar o CEO da Petrobras marca uma forte reversão das políticas favoráveis ao mercado de seu governo, e sinaliza uma pressão potencial sobre as empresas estatais. No México, uma iniciativa controversa do presidente Andrés Manuel López Obrador para beneficiar a CFE em detrimento do setor privado é outro golpe na confiança dos investidores e coloca em risco o acordo comercial USMCA.
Bolsonaro argumenta que a política de combustíveis da empresa só agrada aos mercados financeiros e grupos selecionados no Brasil, e deve ser mudada como parte de um esforço para baixar os preços da gasolina e do diesel. Observe que, sob a atual regra de paridade em vigor, os preços mais altos das commodities e um real mais fraco exigem aumentos nos preços domésticos dos combustíveis. Ele pode se sentir pressionado a contornar a regra, eventualmente levando a menores ganhos para a petrolífera estatal Petrobras, já que seu índice de aprovação caiu para 32,9% em fevereiro, de 41,2% em outubro, de acordo com uma pesquisa publicada pela associação de transportes CNT. Isto também pode explicar por que ele prometeu combater os preços da eletricidade em seguida.
Mais estímulos fiscais estão em andamento no Brasil, já que o governo está planejando uma extensão do programa de transferência de renda por meio de uma emenda constitucional. Fazê-lo sem nenhuma contramedida aprofundaria as preocupações com a estabilidade financeira e aumentaria as expectativas de inflação (a previsão média da inflação dos preços ao consumidor do IPCA no fim deste ano subiu de 3,6% para 3,8%, de acordo com a última pesquisa semanal Focus).
No México, um plano para dar prioridade ao gerador estatal CFE para o despacho de eletricidade gerada a partir de usinas que utilizam óleo combustível e carvão, alterando a ordem existente que favorece a energia renovável solar e eólica produzida por empresas privadas, será discutido na Câmara dos Deputados e depois passado ao Senado. O Morena, partido governista, e seus aliados têm maioria em ambas as casas do Congresso; portanto, a aprovação total é altamente provável.
A iniciativa tem quatro implicações importantes. Primeiro, compromete mais de US$ 9 bilhões em projetos de energia limpa concedidos ao setor privado em 2016-17, como parte da reforma energética da administração anterior. Mas o ônus para as finanças governamentais poderia ser materialmente maior, como evidenciado pelo cancelamento do Novo Aeroporto Internacional do Novo México em 2019. Em segundo lugar, o acordo de livre comércio EUA-México-Canadá (USMCA) é colocado em risco e pode haver ações judiciais potencialmente prejudiciais de outros países. Terceiro, eliminar o incentivo para o sistema comprar primeiro a eletricidade mais barata destrói a eficiência derivada da concorrência entre produtores. Isto poderia se traduzir em taxas mais altas para os consumidores e, potencialmente, forçar o governo a conceder subsídios mais altos. Por fim, o governo, ao mudar as regras e cancelar contratos unilateralmente, continua a prejudicar a confiança dos investidores. O investimento estrangeiro direto (IED) diminuiu 12% no ano passado e os investimentos fixos brutos registraram 22 meses consecutivos em território negativo.
Os investidores devem permanecer à margem quando se trata de ativos brasileiros. Em renda fixa, continuamos a ver melhores oportunidades nos soberanos mexicanos dentro da região. Quanto ao mercado de ações, recomendamos que se invista em ações chinesas nos mercados emergentes.
Esteban Polidura é mestre em Finanças e diretor de Consultoria e Produtos para as Américas no banco suíço Julius Baer.
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