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Os desdobramentos da crise econômica ocasionada pela pandemia da Covid-19 nos apresentam um outro mundo do ponto de vista político. Diversos países estão sofrendo com mudanças em alianças políticas e, consequentemente, com o enfraquecimento de seus governos. E na Itália não é diferente. No dia 13 de janeiro, o senador e ex-premiê Matteo Renzi, do partido Itália Viva, anunciou seu rompimento com o governo do primeiro-ministro Giuseppe Conte, dando início a uma segunda crise no país: a governamental.
O modelo parlamentarista adotado pela Itália exige a eleição indireta de um primeiro-ministro para ser o chefe de governo da República Italiana. Em 2018, Conte foi eleito com a maioria dos votos no parlamento, aliado à coalizão com o Movimento 5 Estrelas, Partido Democrático e Itália Viva. Com a saída de Renzi, surgiu um desequilíbrio numérico para a sustentação do governo.
A crise governamental no país tem um significado muito específico, que é a falha na relação de confiança entre o chefe de governo e o parlamento. Para confirmar essa desconfiança, nos dias 18 e 19 de janeiro ocorreu o “voto di fiducia", ou seja, uma votação entre todo o parlamento para demonstrar apoio, ou não, a Conte. O voto de confiança na Câmara terminou com o placar de 321 a 259 a favor do primeiro-ministro e 27 abstenções. Já a disputa no Senado terminou com 156 votos a favor, 140 contrários e 16 abstenções.
Os números positivos deveriam representar a permanência de Conte, não? A princípio, sim. Contudo, ele atingiu apenas uma maioria simples entre os senadores, visto que a soma dos votos contrários e das abstenções empata com a maioria a favor. Um descontentamento abstrato por parte do parlamento devido à forma como Conte estava, até então, levando seu governo. Para que reine a democracia, é preciso que o primeiro-ministro utilize seu cargo para se aproximar do parlamento, consultando seus aliados e até mesmo seus opositores. Ainda assim, o atual primeiro-ministro preferiu agir sozinho, mesmo durante uma pandemia.
Em 26 de janeiro, Conte decidiu anunciar ao presidente Sergio Mattarella a sua renúncia, após perceber que não teria forças políticas para continuar o governo. Agora, cabe a Mattarella, em conjunto com os parlamentares, decidir como prosseguir: chamando novas eleições, criando um governo técnico ou formando uma aliança política para a indicação de um novo líder. Mas uma coisa é fato: a Itália precisa de um rumo certo. Tempos difíceis exigem união para, apenas dessa forma, sairmos desta pandemia com os menores danos possíveis.
Renata Bueno foi vereadora em Curitiba e, entre 2013 e 2018, deputada do Parlamento da República Italiana pela União Sul-Americana dos Emigrantes Italianos.