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Cultura de doação e participação social

O tema da participação social está na ordem do dia no Brasil, sob as mais diferentes formas e perspectivas, e abre-se um amplo debate público sobre o tema. Neste contexto, revela-se oportuno também revisitar uma das formas de participação em que o Brasil vem se destacando, nas últimas décadas: o Investimento Social Privado (ISP). Trata-se de uma expressão pouco conhecida para muitos e, por isso, é bom retomá-la. O ISP é a destinação voluntária de recursos financeiros, técnicos e humanos voluntários ao bem comum, por meio de apoio a ações sociais, ambientais, culturais e educativas.

Segundo os mais recentes dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cerca de 60% das empresas brasileiras atuavam socialmente de alguma forma em 2006, doando no conjunto o que equivaleria hoje a R$ 6 bilhões anuais. Se os valores são ainda muito inferiores aos de países em que há uma cultura de doação mais desenvolvida, também demonstram que o empresariado brasileiro mostra-se sensível às problemáticas sociais.

Hoje, vivemos um momento histórico, em que é particularmente importante avançar nesta reflexão, disseminando-a por toda a sociedade e aprofundando o debate sobre a construção de uma cultura da doação. Com o novo posicionamento do Brasil no cenário global, o país vem deixando de ser destino para os recursos internacionais que antes apoiavam nossas organizações sociais. Do mesmo modo, a paulatina superação de agendas como a desnutrição, o trabalho infantil e a violência contra crianças e adolescentes, entre outras que marcaram a pauta pós-regime militar, torna menos evidente para a sociedade a radical importância das organizações para a vida democrática.

É, portanto, uma excelente oportunidade histórica para que as empresas repensem as formas pelas quais participam do desenvolvimento da nova sociedade brasileira e assumam seu papel, com vistas ao bem comum. Ao destinarmos recursos técnicos, humanos e financeiros para a promoção da dignidade humana, estamos reconhecendo os brasileiros como detentores de um conjunto de direitos, o que contribui para o desenvolvimento da sociedade como um todo. Esta não é uma visão de benemerência, pois nos coloca como corresponsáveis neste processo. Ato fundado no altruísmo, doar é (também) participar.

Por outro lado, para que se configure como uma forma mais efetiva de apoio ao desenvolvimento social, a doação precisa se concretizar prioritariamente no apoio às organizações que vivem cotidianamente os desafios a serem enfrentados, conhecem as demandas da comunidade e atuam de forma sustentada, e não pontual. A cultura da doação recoloca perguntas fundamentais da ação social. Precisamos saber o que nos move, compreender o contexto da ação, saber a que se destina e quais serão as consequências dos recursos que oferecemos.

Para quem pretende avançar neste debate, há muitas referências disponíveis. Não é preciso começar criando institutos ou fundações, nem mesmo departamentos especializados dentro das empresas. Um bom início pode ser a nomeação de um profissional ou equipe que se dedique a conhecer o tema e estudar formas de ação – até porque o envolvimento da empresa pode acontecer de várias maneiras, como na mobilização dos funcionários, no diálogo com as organizações sociais e na compreensão dos cenários em que ela atua.

Para dar o primeiro passo, um caminho pode ser procurar os conselhos de direitos da criança e do adolescente de seu município, pois estes certamente já se relacionam com um conjunto de organizações sociais que conhecem as demandas sociais da cidade e podem ser apoiadas. É possível procurar ainda os órgãos de classe e associações, que já devem ter ações neste sentido. A partir daí, o tamanho da estrutura vai se dar na proporção direta do grau de compreensão da empresa para o tema, da envergadura dos investimentos previstos e dos resultados almejados.

Pensar sobre participação social é, enfim, uma excelente porta de entrada para que empresas e seus acionistas compreendam o cenário do investimento social privado e sua importância para a construção do país que queremos para o século 21.

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