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Em um momento histórico em que o Brasil deve escolher pela permanência ou pelo afastamento dos presidentes da República e da Câmara dos Deputados, a democracia mostra sinais de fragilidade. A crise política e a estagnação econômica pós-eleitoral, além de revelarem a dificuldade do atual governo em dialogar com a própria base, escancaram também a falta de convicção da presidente Dilma em um projeto de nação.

Há uma clara crise de representatividade institucional. O brasileiro médio não se sente contemplado pelo poder constituído, seja em âmbito municipal, estadual ou federal. Culpa do distanciamento dos partidos e dos políticos perante a sociedade. Nossa presidente da República, em meio à crise, optou por procurar culpados a admitir falhas e, em menos de um ano, foi obrigada a operar uma reforma ministerial tumultuada para garantir “governabilidade”.

Não bastassem os próprios erros e a confusão dentro de casa, surgiu uma série de escândalos e prisões envolvendo aliados do governo. Tudo isso inquietou ainda mais o Palácio do Planalto e ampliou a desconfiança do cidadão brasileiro em seus dirigentes.

As forças políticas e morais se esvaem, assim como a crise institucional que cresce e toma conta do país

Ao mesmo tempo, o “malvado favorito dos coxinhas”, Eduardo Cunha, foi pragmático. Enxergou na crise do Executivo oportunidade perfeita de barganha e chantagem. Situação esta que ficou clara com o pedido de impeachment da presidente transformado em processo, após perder a disputa pelo voto de três deputados petistas por sua absolvição na Comissão de Ética da Câmara.

Pedido de impeachment, aliás, que não possui base legal! Se a tivesse, o governador Beto Richa já teria sido sumariamente cassado aqui no Paraná, no início deste ano, por causa de suas pedaladas fiscais que, diferentemente daquelas da presidente e ainda de maneira mais grave, foram realizadas após o exercício fiscal. Isso tudo sem contar o caso dos auditores fiscais suspeitos de fraude na Receita Estadual, os escândalos pela falta de pagamento de precatórios, a apropriação indevida dos fundos previdenciários dos servidores e da Criança e Adolescente, além da violência contra os professores estaduais no massacre de 29 de abril.

O descontentamento com os governos de âmbito municipal, estadual ou federal é enorme. As denúncias de corrupção são inúmeras. As forças políticas e morais se esvaem, assim como a crise institucional que cresce e toma conta do país. Mas há de se prezar pelo cumprimento da lei, acima de qualquer coisa, e não perder a esperança de se fazer justiça!

A verdade é que a política econômica está absolutamente equivocada e fazendo um arrocho em cima dos mais pobres. É preciso criar um pacto no Brasil para não prejudicar os mais necessitados e, ao mesmo tempo, garantir o emprego, a saúde e retomar o crescimento. Se a economia do mundo vai mal, não há por que se voltar contra a integridade pessoal da presidente, mas sim pressionar o governo para mudar a política econômica que está acabando com o país.

Neste cenário conturbado e repleto de possibilidades, o vice-presidente Michel Temer se mostra visivelmente magoado pelo tratamento recebido em cinco anos de aliança, haja vista a carta – vazada para a imprensa – endereçada à presidente Dilma. Habilidoso e discreto, Temer não deve se colocar como o “homem do golpe”, mas também não deve se envolver publicamente a favor do governo – e menos ainda em relação a Cunha! Porém, ainda poderá ser obrigado a fazê-lo nos bastidores, para manter seu grupo no comando nacional do PMDB.

Como se vê, os tempos que se avizinham são nebulosos. A democracia representativa envolve questões menores, mesquinhas e complexas. Há muito em disputa, inclusive no PMDB. Esperamos que nossos representantes federais tenham discernimento para agir conforme a Constituição e retomem a confiança do povo com os poderes que regem o país.

Requião Filho, advogado, é deputado estadual pelo PMDB e presidente da Fundação Ulysses Guimarães no Paraná.
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