Pelo menos no que tange aos transportes urbanos sobre trilhos, a capital paranaense sempre foi discriminada pelo governo federal. Das nove regiões metropolitanas brasileiras, Curitiba é a única que, embora cortada por trilhos utilizados para o transporte de carga, não conta com um sistema de transportes metroferroviário de passageiros.

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Há mais de três décadas foram suprimidos os chamados "trens operários", que circulavam entre a estação central e a periferia da cidade. Desde então, nunca se cogitou da implantação de um moderno transporte de massa, como ocorreu nas outras capitais importantes do país.

Nos últimos 25 anos, o governo federal vem investindo pesado em sete regiões metropolitanas: Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Fortaleza. Curitiba, acertadamente, optou pelo transporte cujo custo de implantação é bem inferior ao do sistema metroferroviário, mas já há sinais de saturação em alguns trechos. Não é à toa que Curitiba é referência mundial em transporte coletivo sobre pneus, e, para implantá-lo durante quase três décadas, o sistema que aí está nunca contou com recursos federais, ao contrário de outras capitais brasileiras. Por isso é chegado o momento de a cidade começar a entrar nos trilhos, no trecho onde os ônibus biarticulados já não mais conseguem atender a população nas horas de maior demanda.

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A presença da União nos transportes públicos vem do tempo do Império, quando dom Pedro II inaugurou o primeiro trecho da estrada de ferro que levava seu nome, e por onde passaram a circular os chamados trens suburbanos tracionados, locomotivas a vapor, substituídas, a partir de 1937, pela tração elétrica da Estrada de Ferro Central do Brasil.

Em 1957, com a criação da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), vinculada ao então Ministério de Viação e Obras Públicas, a empresa passou a explorar diversos serviços de trens suburbanos em várias capitais, arcando com os investimentos e cobrindo os déficits operacionais que apresentam. A partir de 1980, o governo federal passou a implantar modernos sistemas de trens urbanos, em algumas regiões metropolitanas, que passaram a ser chamados de metrôs de superfície, aproveitando a faixa de domínio da ferrovia existente. No Rio Grande do Sul foi criada a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb), que começou a operar em 1985. Trata-se de uma empresa federal hoje vinculada ao Ministério das Cidades. No projeto foram investidos, só no primeiro trecho, cerca de 400 milhões de dólares, financiados pelo Banco Mundial. Recentemente, o ministro das Cidades incluiu a expansão das linhas da Trensurb, entre as prioridades do Plano Plurianual de Investimentos (PPI), prevendo a aplicação de R$ 600 milhões, em quatro anos para permitir a chegada dos trens ao município de Novo Hamburgo. Os chamados metrôs de superfície de Belo Horizonte e do Recife também foram iniciados na década de 1980, com recursos da União, via Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e Companhia Brasileira de Trens urbanos (CBTU).

Logo a seguir, foram iniciadas as obras dos metrôs de Fortaleza e Salvador. A CBTU explora também os trens urbanos de Natal, João Pessoa e Maceió. A construção dos metrôs de São Paulo e de Brasília também recebeu forte ajuda do governo federal, e quanto ao metrô do Rio de Janeiro, há quem afirme ter sido um presente do presidente Geisel ao processo de fusão dos dois estados. Como se observa, somente Curitiba nunca gozou das bondades do Tesouro Nacional. Sendo, portanto, a hora de pleitear a destinação de recursos federais para construir sua primeira linha de metrô, reclamada por quase 70% dos curitibanos. O trecho prioritário do sonhado metrô de Curitiba ligaria os bairros Pinheirinho e Cabral, onde circulam, em canaletas, os já saturados ônibus biarticulados. Afinal de contas, o ministro do Planejamento é paranaense e certamente fará todo o empenho para sensibilizar o presidente Lula a liberar os recursos para a prefeitura de Curitiba. Renê Fernandes Schoppa é engenheiro civil e ex-diretor da RFFSA e da CBTU.