Ao parabenizar Curitiba pela comemoração dos seus 321 anos, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná lembra que, quando se fala em planejamento urbano, nossa cidade tem muita história para contar. Suas origens remontam a meados do século 17, mais precisamente a 1661, quando Balthasar Carrasco dos Reis requereu e obteve uma sesmaria no Barigui -- a primeira concedida na região de Curitiba. Vale lembrar que a escolha do local da futura cidade é bem anterior. Ela recai sobre o ponto de encontro de caminhos utilizados por povos indígenas, já em 1200. Os mais antigos deles faziam, e ainda fazem, a ligação entre o Litoral e o Planalto.
O primeiro documento conhecido sobre o ordenamento urbano da aldeia de Curitiba é a Ata de Levantamento do Pelourinho, de 1668. Ela outorgou a Mateus Leme o título de Capitão Povoador. Este ordenamento, entretanto, ficou incompleto por 25 anos e só teve continuidade em 1693, quando no dia 29 de março os "homens bons" se reuniram para indicar os componentes da Câmara Municipal: os juízes, o procurador e o escrivão. Este ato é considerado a certidão de nascimento de Curitiba.
O fato urbanizador inicial de Curitiba pode ser observado em documento de 1721, que traz as orientações para a implantação do sítio original da cidade. Nele pode-se perceber a "consciência urbanística" resultante das "medições para se fincar os marcos". A partir daí ganham importância as chamadas "inspirações do desenho", que passam a definir o traçado da cidade.
Ainda em 1721, vieram as primeiras posturas municipais com os Provimentos do Ouvidor-Geral, dr. Raphael Pires Pardinho. Neles, a preocupação maior deriva da organização da posse e distribuição da terra. Verifica-se naquela oportunidade já estarem presentes as primeiras referências para a produção da arquitetura na "Villa".
Na sequência veio uma série de outros fatos urbanizadores importantes. Em 1895 foi aprovado o Código de Posturas, que inaugurou o "fachadismo" da arquitetura. Em 1913 tivemos a criação da Comissão de Melhoramentos. Coube a ela a definição do calçamento das ruas centrais, a abertura das principais avenidas (como a Visconde de Guarapuava e a Vicente Machado), a eletrificação das linhas de bonde e as construções do Paço Municipal e do novo Mercado, entre outras inovações.
O ano de 1920 marca a aprovação do novo Código de Posturas, que enfatizou a normatização das construções. Com o Plano Agache, de 1943, a cidade foi, pela segunda vez, planejada como um objeto único. A importância do Plano também está ligada à proposta de criação do Centro Cívico, com a capital paranaense antecipando-se, assim, a Brasília e à maioria das cidades brasileiras.
A partir dos anos 60, o planejamento urbano adquire um forte papel nas administrações públicas municipais do Brasil. Em Curitiba, essa política é acentuada no mandato do prefeito Ivo Arzua, governo no qual foi elaborado o Plano Diretor de 1965. Dele também resultou o surgimento do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), criado justamente para acompanhar a execução do Plano.
Nesta trajetória de profissionalização do urbanismo em Curitiba, o fato bastante relevante foi o surgimento do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPR, em 1962, o primeiro do estado. Para sua implantação vieram muitos professores/arquitetos de fora, que logo depois também passam a atuar no Ippuc. E é essa equipe que, nas três administrações do prefeito Jaime Lerner, produz as mais profundas modificações urbanísticas de Curitiba, transformando-a num modelo de planejamento urbano a ser seguido.
Ao mesmo tempo em que valorizou seus arquitetos e urbanistas, a cidade sempre foi valorizada por eles. Abraçando Curitiba no início de mais um ciclo, o CAU/PR reafirma esta parceria, com a certeza de que ela deve ser permanente.
Jeferson Dantas Navolar, arquiteto e urbanista, é presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná.
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