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Para Paulo Leminski (1944-1989), "há muitas Curitibas dentro de Curitiba". Batel, Cabral, Boqueirão, Bairro Novo etc., um universo de 75 bairros. São, na verdade, quase cidades dentro de uma cidade, com suas peculiaridades. Mas o que teriam em comum? Infelizmente, as abomináveis pichações.

Curitiba é considerada um laboratório urbano de civilidade e não merece essa predação bárbara e transgressiva. Bem lembrou Jaime Lerner: "Curitiba, pela sua formação étnica, é uma síntese do mundo e tornou-se uma referência para o mundo". Se o meu feeling não falhar, a pichação é mais repudiável em Curitiba e se mostra com lente de aumento, pois há uma quebra de expectativa. No Rio de Janeiro ela se dilui, se apequena em meio à luxúria paisagista e, em São Paulo, em meio ao caos da metrópole.

Todo curitibano tem um pouco de urbanista e esse pendor marcante é um sinete da nossa autoestima. Talvez tenha como marco o Calçadão da Rua das Flores – e é com extrema indignação que se registram pelo menos 76 portas de aço pichadas quando se perambula pelos seus 800 metros à noite, aos domingos ou feriados.

Uma força transformadora e o arrojo urbanístico se fizeram presentes em Curitiba, merecendo diversos epítetos: "cidade modelo", "de 1.º mundo", "ecológica", "sorriso" – sorriso que fica amarelo quando ciceroneamos a cidade para um turista. Em qualquer ponto da cidade, uma agressão aos olhos, à estética: lá estão elas, as delituosas pichações, do cimo dos prédios ao reles meio-fio. Diante do olhar ou de alguma palavra de reprimenda do nosso amigo turista, ganha algum significado a frase do folclórico candidato a vereador Pedro Lauro, que fazia propaganda de campanha com giz nos meios-fios. Dizia: "Todo curitibano anda de cabeça baixa".

Em décadas distintas, apresentamos a cidade para duas delegações estrangeiras. Em 1990, a uma plêiade de 40 professores do Japão que, visivelmente encantados, adjetivaram Curitiba como moderna, bela e limpa. Em 2011, uma comissão de quatro educadores do Reino Unido incensou a cidade e sua gente educada e bonita, mas se indignou com os muitos "rabiscos".

A pichação é um deboche à sociedade, primordialmente um crime com detenção de até um ano, multas e mais o custo do reparo, penas alternativas e proibição de participar de concurso público por dois anos. Ademais, agride a estética e o patrimônio público e privado. Uma praga social, pois as ocorrências recrudesceram 45% em 2012 sobre 2011 e, de acordo com matéria da Gazeta do Povo de 11 de dezembro de 2012, a prefeitura gasta anualmente R$ 1,3 milhão para recuperar os danos dos pichadores, sem incluir os custos administrativos.

Incalculável é a soma dos ônus dos lojistas. Como diretor de escola, dezenas de vezes também fomos vítimas. Nos muros, plantávamos mudas de heras ou unhas-de-gato; nas portas de aço, sempre que amanheciam danificadas, o inspetor pincelava com uma primeira demão de tinta, antes da chegada dos alunos, para não dar visibilidade aos transgressores.

Intensamente louvável é a iniciativa da Associação Comercial do Paraná (ACP) em promover ações repressivas e preventivas em uma parceria com a prefeitura, polícias Militar e Civil, Guarda Municipal, Instituto GRPCom, secretarias de Educação e Sinepe/PR, entre 21 entidades de classe. Todos na ACP assumiram esse compromisso. Nós, professores e gestores escolares, temos a relevante incumbência de desenvolver ações pedagógicas que visem a uma maior consciência dos danos materiais, estéticos e culturais das pichações, mormente pelo fato de a faixa etária que mais picha estar dentro da escola. Curitiba merece!

Jacir J. Venturi é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR).

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