Nas pesquisas internacionais feitas para identificar os povos mais felizes e otimistas, há muitos anos o Brasil vinha aparecendo nas primeiras posições. Em 1988, um ano antes da queda do muro de Berlim, fiquei um mês em curso nessa cidade, e a cada vez que eu falava a um alemão, fosse da Berlim Ocidental (capitalista) ou da Berlim Oriental (comunista), de minha admiração pela capacidade de recuperação daquele povo, rapidamente ele respondia: “mas quem sabe viver e ser feliz são os brasileiros”.
A norma era ouvir algo parecido em quase todos os países. Como crítica a nosso país surgia sempre a questão da violência urbana. Ali por 2010 e 2012, o Brasil apareceu em algumas pesquisas feitas no exterior nas mesmas boas posições. Um amigo alemão, que morou alguns anos em Curitiba, me dizia que o brasileiro é teimoso: mesmo com pobreza, inflação e violência, é um povo alegre e otimista.
A partir de 2013, o Brasil vem perdendo posições nesse ranking, conforme indicam as pesquisas mais recentes. Estamos deixando de ser alegres e otimistas. Será isso um fenômeno passageiro ou permanente? Esse assunto tem conexão com o problema econômico nacional. Economia é a ciência da ação humana, entendida como o emprego de meios para atingir fins. O trabalho é um dos meios, é toda ocupação útil. Um ladrão de também tem trabalho, que é útil para seus fins, ainda que moralmente seja um crime. É o caso das guerras: a ação militar é um trabalho, mesmo que a causa seja condenável.
Entre os que trabalham na vida normal de um país, a maioria é empregado, empresário ou profissional liberal. São as decisões e as ações de todo o conjunto dos trabalhadores que definem investimentos, criação de empresas, empreendimentos, abertura e fechamento de unidades produtivas, compras, vendas e negócios em geral. Ou seja, a economia é resultante do trabalho coletivo, da ação humana somada.
O que resulta do sistema econômico a partir das decisões e ações humanas resulta é o Produto Interno Bruto (PIB), o nível de emprego, a geração de renda, o volume de tributos e a melhoria das condições de vida da população. O desempenho da economia nacional depende da chamada “psicologia das massas”, sobretudo a psicologia do produtor e a do consumidor, que determina mais ou menos progresso.
A redução no otimismo e na alegria de um povo tem consequências econômicas, políticas e sociais. Um jornalista perguntou a Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, se ele era otimista ou pessimista. Ele respondeu: “prefiro ser otimista, pois não conheço pessimista bem-sucedido”. No fundo, ele quis dizer que o empreendedor pessimista pisa no freio, não investe e não gera negócios, emprego e crescimento. Logo, pessimismo não é bom.
Mas a questão não é apenas econômica. A redução do otimismo e da alegria na comparação internacional, quando todos os países foram atingidos pela mesma pandemia, dificulta o progresso social e retrasa a diminuição da pobreza e a redução das desigualdades. Outro aspecto interessante está nos negócios e consumo nas atividades influenciadas por hábitos ligados ao otimismo e à alegria de viver, como o turismo de lazer e os eventos de diversão (teatro, cinema, shows musicais, esportes de lazer etc.). Uma pessoa deprimida não tem ânimo para consumir tais coisas.
A união da economia com a psicologia já rendeu o Prêmio Nobel de Economia a estudiosos sobre a psicologia do consumidor e do investidor. Richard H. Thaler foi o ganhador do prêmio em 2017 por ter desenvolvido a teoria da contabilidade mental ligada à tomada de decisões financeiras. O psicólogo Daniel Kahneman ganhou o Nobel em 2002 por sua contribuição à economia comportamental.
De tudo isso resulta que, para o progresso material, o desenvolvimento social e o aumento da felicidade nacional, seria bom que o povo brasileiro recuperasse o otimismo e a proverbial alegria de nossa gente. Não é uma questão apenas emocional. É um fator de crescimento econômico, diminuição do desemprego e redução da pobreza.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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