| Foto: Alex Edelman/AFP

Desde as eleições presidenciais norte-americanas de 2016, influenciada por agentes russos através de uma campanha de desinformação nas redes sociais, plataformas como Twitter e Facebook adotaram algumas medidas para solucionar o problema. Milhares de perfis falsos, com um sem-fim de seguidores, tiveram suas páginas desativadas no Facebook, por exemplo, e não puderam ser restabelecidas facilmente. Já o Twitter reduziu o risco de que a propaganda política se espalhe através de contas automatizadas, ou bots.

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É verdade que tais esforços podem estar fazendo a diferença; o consenso entre os pesquisadores que monitoraram a votação intermediária de 2018 é que houve menos do tipo de ingerência específica de que os russos lançaram mão há dois anos, quando a intenção era tentar agravar as tensões sociais nos EUA e fomentar a desconfiança nas instituições democráticas.

Entretanto, uma análise feita por Kris Shaffer, analista sênior de nossa empresa de cibersegurança, sugere que, ainda que tais medidas possam ter minimizado a eficácia das táticas de 2016, não conseguiram acabar de vez com sua manipulação de influência. De fato, em muitos casos, parecem apenas ter forçado a Rússia a mudar de estratégia ou desenvolver outras.

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Atualmente nossa companhia vem detectando mais atividades em tempo real; são operações on-line contínuas com o objetivo de afetar as eleições intermediárias, divulgadas pelas plataformas de redes sociais ou detectadas por pesquisadores durante o mesmo período anterior às eleições de 2016.

O consenso entre os pesquisadores que monitoraram a votação intermediária de 2018 é que houve menos do tipo de ingerência específica de que os russos lançaram mão há dois anos

Só no último mês, nossos especialistas coletaram mais de 26 milhões de postagens relativas à votação deste ano. É um conjunto de dados que inclui uma grande fatia de conteúdo relevante do Twitter, bem como um volume menor de amostras do Facebook.

Também identificamos em nossas análises que mais de 400 sites indicam ser canais russos de doutrinação dirigidos ao público norte-americano. Desses, confirmamos que mais de 100 estão sob a direção do governo russo e, com grande grau de certeza, a maioria dos outros também é de origem russa.

Só no mês de outubro, rastreamos 110 mil postagens nas redes sociais que fazem referência a algum candidato, tópico ou hashtag do pleito deste ano. Dessas, mais de 10 mil tinham link para pelo menos um dos sites cuja origem confirmamos como sendo russa.

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Os três mais comuns são o RT, da rede a cabo internacional financiada pelo governo russo (5.275 links); o site de notícias e opiniões de direita The Duran (1.328 links); o site de notícias e comentários Sputnik, também gerenciado pelo governo russo (1.148 links).

Além disso, identificamos 1.451 postagens dirigidas especificamente a contas de eleitores norte-americanos e que vieram, como temos grande confiança de afirmar, de perfis manipulados por operações russas. São posts que abordam a geopolítica do Oriente Médio, o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi e as audiências de confirmação de Brett Kavanaugh para a Suprema Corte.

Leia também: Quando os eleitores de Trump votam nos democratas (artigo de Timothy P. Carney, publicado em 5 de novembro de 2018)

Leia também: Putin é o líder de um sindicato do crime cibernético na Rússia (artigo de John P. Carlin, publicado em 18 de julho de 2018)

No mês passado, o artigo mais compartilhado de origem sabidamente russa foi um texto no The Duran que supostamente mostrava como grupos financiados pelo bilionário George Soros “se mancomunaram com Google, Facebook, Twitter e outras plataformas para eliminar a ‘doutrinação conservadora de direita’”.

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As páginas nas redes sociais ligadas à Rússia ficaram ativas durante as audiências de Kavanaugh, chamando a atenção para denúncias de violência doméstica e sexual contra vários candidatos democratas na disputa em 2018 e nomes do partido com potencial para disputar as eleições de 2020. Além disso, elas vêm reforçando o sentimento anti-imigração, inclusive com teorias de conspiração sobre as caravanas de imigrantes oriundas da América Central, e promoveram a ideia de que a campanha de envio de bombas pelo correio de Cesar Sayoc Jr., correligionário de Trump, era, na verdade, uma trama democrata.

Por causa das inúmeras mudanças realizadas desde 2016 nas plataformas e práticas de detecção de doutrinação política, não é possível uma comparação direta entre os dois ciclos eleitorais. Além disso, nunca houve uma análise completa do cenário das redes sociais porque ninguém tem acesso a todos os dados.

Leia também: Os russos de hoje e o passado comunista (artigo de Jacir Venturi, publicado em 21 de junho de 2017)

Leia também: Os generais de Maduro (editorial de 28 de novembro de 2017)

O fato, porém, é que por menor que seja o número de norte-americanos compartilhando elementos de doutrinação russa nas redes sociais sem querer, o fato preocupa. E baseados nas atividades que nossas análises atribuem à iniciativa do governo russo, calculamos que pelo menos milhares, ou milhões até, de cidadãos dos EUA estejam engajados com o conteúdo do proselitismo daquele país.

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O consenso entre pesquisadores acadêmicos e especialistas em Rússia na comunidade de inteligência é que aquela nação se dedica à batalha de informação em tempo integral, pois se considera em estado permanente de guerra de informações. Suas operações de influência on-line são baratas e eficientes, garantindo-lhe uma vantagem diferenciada, dadas das liberdades de expressão permitidas pelas democracias ocidentais.

Estamos entusiasmados com a seriedade com que as plataformas das redes sociais e agências governamentais estão encarando a situação, mas embora tenha havido muitos progressos desde 2016, temos de nos manter alertas face aos esforços dos russos – já confirmados por várias fontes – de enfraquecer nossa democracia.

Jonathon Morgan é o CEO e Ryan Fox, o COO da New Knowledge, uma empresa de cibersegurança que monitora o nível de desinformação.
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