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Das telas para o afeto: tecnologia não pode substituir pais e educadores

Imagem ilustrativa. (Foto: Unsplash)

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O desenvolvimento infantil é apoiado por muitas habilidades sociais, cognitivas e emocionais que permitem às crianças avançarem em suas conquistas diárias. Atualmente, percebemos dificuldades nesses avanços a ponto dos pequenos desenvolverem distúrbios emocionais e psicológicos significativos. Transtornos de ansiedade, de humor e relacionados ao estresse são cada vez mais comuns nos consultórios e na vivência escolar, principalmente nas últimas décadas com o aparecimento da Geração Z, nascidos entre o fim da década de 90 até 2010, ou da geração Alpha, nascidos após 2010.

São gerações totalmente conectadas às telas, que têm o referencial de espera e resolução de problemas vindas de aparelhos que podem ser ligados apertando apenas um botão, sendo, portanto, bastante imediatistas e tendo poucas habilidades para lidar com as frustrações. São gerações que têm maior acesso às informações e permanecem muito mais tempo em seus celulares e tablets, gerando maior distanciamento dos relacionamentos interpessoais e vivências reais com os pares.

Segundo dados da Unicef, mais de um em cada sete meninos e meninas, com idades entre 10 e 19 anos, vivem com algum transtorno mental diagnosticado. A pesquisa demonstra também que uma mistura de experiências, fatores genéticos e ambientais, desde os primeiros dias de vida, incluindo parentalidade, escolaridade, relacionamentos, exposição à violência, discriminação, pobreza e emergências de saúde, molda e afeta a saúde mental das crianças ao longo da vida.

Um estudo de 2019 da Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que crianças de até quatro anos devem passar, no máximo, uma hora em frente a telas de forma sedentária, como assistir TV ou jogar no computador e que, se possível, este tempo deve ser reduzido. Atualmente, observamos que as crianças demonstram muitas dificuldades e lacunas nos processos de desenvolvimento e podemos afirmar uma forte relação com o uso exagerado de telas mesmo nas pequenas idades. Tal modificação no processo de desenvolvimento experienciado pelas crianças de hoje, mais conectado e rápido, pode trazer melhoras na curiosidade e visão de mundo, com maior acesso a informações e conectividade com pessoas de diferentes lugares. Porém, dependendo do tempo expostas às telas, ficam mais impacientes e têm pouca vivência do mundo natural, tão importante para a construção de habilidades sociais e experiências sensoriais.

Esse pode ser um dos motivos de termos a cada dia mais crianças com diagnósticos de atrasos de desenvolvimento e dificuldades sensoriais e emocionais. Observamos, na prática clínica, crianças com crises de ansiedade e irritabilidade por serem contrariadas e pais com medo de impor limites e regras por terem que enfrentar tais comportamentos. Assim como os adultos, as crianças também têm temperamento variável, porém, necessitam aprender a identificar o que estão sentindo.

Tal processo é denominado atualmente de alfabetização emocional, e propõe que a criança tenha acesso às emoções, saiba reconhecer e identificar cada uma delas, assim como lidar com as resoluções de conflitos e anseios frente às situações. Nós, como pais e profissionais, devemos estar atentos e sermos facilitadores desse aprendizado, questionando nossa rotina e conduta e, sempre que necessário, encaminhando a profissionais especialistas para que o desenvolvimento da infância possa ser conduzido da melhor maneira possível.

Guilherme Tonhozi de Oliveira, especialista em Desenvolvimento Infantil e Adolescente, é psicólogo educacional dos colégios do Grupo Positivo.

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