Com quase seis meses de atraso, a Câmara dos Deputados cassou o mandato do ex-deputado Natan Donadon. Foram 467 votos favoráveis à cassação e uma abstenção. Mesmo tardia, a votação da quarta-feira lavou minha alma. Ainda lembro da vergonha e frustração que senti na noite do dia 28 de agosto de 2013, quando a maioria dos deputados, escondida pelo voto secreto, manteve o mandato do "deputado presidiário", como ficou conhecido.
Para não esquecer a nossa história, lembro que Donadon estava preso desde o dia 28 de junho no Complexo Penitenciário da Papuda, condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 13 anos de prisão por peculato e formação de quadrilha. Mesmo condenado e recluso, a Câmara não teve a coragem de cassar o seu mandato. Dos 513 deputados, apenas 405 votaram; 108 nem sequer compareceram ao plenário. Dos 405 votantes, 233 votaram pela cassação (eram necessários 257 votos para cassar o mandato), 131 deputados votaram contra a cassação e 41 escolheram o muro da abstenção.
Relembrar isso é necessário porque a decisão da última quarta-feira só foi tomada porque a votação foi nominal e aberta; ninguém pôde se esconder atrás do voto secreto. Além disso, estamos em período pré-eleitoral. O leitor e eleitor não deve se deixar enganar sobre a influência das eleições de outubro no comportamento dos parlamentares.
Aliás, aqui cabe um parêntese. Muitos parlamentares que votaram pela cassação de Donadon no dia 12, preocupados com a influência do seu voto nas eleições de outubro, aprovaram abertamente o próprio reajuste salarial de 61,8% no fim de 2010, após as eleições. Ou seja: será que Donadon seria cassado se a votação fosse em novembro? Não sei, mas vale a reflexão.
Esse parêntese é importante para manter nossos olhos abertos. Não podemos relaxar! Donadon só perdeu o mandato porque o PSB apresentou uma representação pedindo a cassação do deputado, que até então estava apenas afastado do cargo para cumprir pena.
Precisamos ficar atentos porque as coisas não acontecem por acaso. É preciso provocar, instigar, questionar e agir. Vejamos: o Brasil acabou de saber que jovens pobres recebem cachê de R$ 150 para praticar atos de vandalismo durante manifestações legítimas da sociedade. Só soubemos disso porque o jovem Caio Souza foi indiciado e preso pela morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade. E eu me pergunto: haveria tanta mobilização da opinião pública e tanto empenho da polícia se o rojão que causou a morte de Andrade tivesse atingido um outro manifestante qualquer?
O mesmo episódio trouxe à lume a personagem Sininho, codinome de Elisa de Quadros Pinto Sanzi. Fada madrinha dos black blocs, ela é uma jovem de 28 anos que não trabalha, tem dois RGs, dois endereços no Rio de Janeiro e já foi presa duas vezes por formação de quadrilha. E a maior agravante: apesar de aparecer na mídia como porta-voz dos manifestantes, ela não os representa.
A cassação de Donadon, a prisão de Caio e a revelação da Sininho só aconteceram porque colocaram luz sobre eles. É preciso manter a luz sempre acesa para se revelar a verdade. Do Evangelho de Lucas destaco duas palavras de Jesus Cristo para nossa inspiração e motivação: "Não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz" e "ninguém, acendendo uma candeia, a põe em oculto nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz".
Portanto, sejamos luz!
Marcelo Almeida é deputado federal pelo PMDB-PR.
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