A Inteligência Artificial parece ter chegado a um ponto de inflexão para atingir as massas.| Foto: Freepik
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O senso comum considera a tecnologia como neutra. Seu uso é que a tornaria boa ou ruim. Assim, armas de fogo teoricamente desenvolvidas para proteger uma pessoa de perigos, por exemplo, de animais selvagens ferozes, na prática, são também usadas para matar inocentes, às vezes promovendo carnificinas. Não é muito diferente com tecnologias futurísticas, como os algoritmos de aprendizado de máquina que geram textos com linguagem fluente, com fundamento na habilidade em manipular enormes bases de dados. Esse avanço tecnológico pode mudar a forma como a ciência é feita, a dúvida está em saber se será necessariamente para melhor.

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Parecia uma realidade utópica quando no ano passado foi apresentada ao mundo a nova e poderosa ferramenta de inteligência artificial, chamada de GPT-3, criada no Vale do Silício. A ferramenta consegue produzir textos a partir de uma frase provocativa, baseada em dezenas de bilhões de textos originais existentes em livros, artigos ou sites da internet. O que inclui fazer resumos ou interpretações de textos científicos. De lá para cá não se fala mais em outra coisa. E também foi muito rápida a forma com que ela entrou na vida das pessoas. Dia desses fiquei sabendo de um filho de uma conhecida que usou o site GPT para enviar e-mail para o chefe para pedir um dia de folga, já que tem trabalhado demais. E reconhece que a argumentação que obteve da “máquina” foi infinitamente melhor do que a sua.

A IA é uma bicicleta para a mente. Mas também pode se comportar como um enxame infinito de motocicletas autônomas e agressivas, que saem atropelando gente por aí.

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Trata-se de um recurso tão avançado, que mesmo pessoas especializadas mostraram dificuldades em distinguir textos redigidos sobre o mesmo tema, quando produzidos por humanos ou pelo GPT. O programa responde praticamente qualquer pergunta (se existir reposta já publicada), efetua correções gramaticais, traduz textos entre idiomas, resolve problemas matemáticos e o suprassumo: pode até efetuar programação de computadores usando as linguagens mais corriqueiras.

As possibilidades abertas pelo Site GPT e programas similares é estarrecedora. Para o bem e para o mal, considerando que vivemos uma realidade em que as fake news são a face mais nefasta do nosso cotidiano. Assim, o tema passou a preocupar os cientistas. Às vezes, esses sites repetem erros ou estereótipos problemáticos, que estão contidos em alguns dos milhões ou bilhões de documentos usados para seu treinamento. E os pesquisadores temem que fluxos de linguagem gerados por computador, indistinguíveis da escrita humana, possam causar desconfiança, desinformação e confusão. Além de outros vieses, como racismo, misoginia ou homofobia.

O futuro é mesmo algo intrigante. Desde os primórdios da humanidade tentamos prever o que virá depois, isso é fato. Seja observando os movimentos das estrelas, ou quem sabe consultando um “profeta”, vide Nostradamus, a sociedade sempre se preocupou com o que não sabe e não consegue controlar.

Quando presenciamos a primeira grande revolução industrial, com todos aqueles avanços tecnológicos e a substituição de trabalhadores por máquinas, as pessoas já se perguntavam “e agora? Será esse o destino da humanidade?”, um questionamento, por sinal, que perdura até os dias atuais. Para os não tão amantes da tecnologia, uma notícia: sim, esse é o destino da humanidade, e será cada vez mais.

De fato, os robôs substituirão os humanos em muitos trabalhos e tarefas, pois cada vez mais, empresas e fábricas implantam novas tecnologias acionadas por algoritmos inteligentes e que “trabalham” ao lado das pessoas. Atividades como dirigir carros, entregar produtos, classificar itens e prever tendências serão executadas com maior grau de precisão.

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O que muitas pessoas não veem, é que isso não é necessariamente algo para se temer. Uma automação feita com inteligência artificial resolve problemas mais recorrentes, principalmente, e isso dá a oportunidade para as pessoas focarem em atividades mais estratégicas, ou em estudos e especializações, fomentando um ambiente propício para a geração de ideias inspiradoras e criativas. E também o desenvolvimento de modelos de negócios disruptivos e inovadores.

Mas existem muitos trabalhos que a tecnologia não pode substituir, precisamos ir no sentido intrínseco disso: humanos pensam, evoluem, têm capacidade de interpretar situações com uma visão que uma máquina não dispõe, conseguem se relacionar e resolver problemas trazendo um olhar mais empático.

Podemos usar como exemplo tudo o que se tem feito no sentido tecnológico em relação à arqueologia. Drones, imagens de satélite, LiDAR e outras ferramentas de sensoriamento remoto têm sido empregadas para localizar e mapear sítios arqueológicos em locais remotos e inacessíveis, enquanto a datação por radiocarbono e outras técnicas de datação avançadas têm permitido determinar a idade de artefatos e estruturas com maior precisão do que nunca. Hoje em dia, a arqueologia vive um momento emocionante e revolucionário, graças à convergência da tecnologia e da investigação científica.

Mas a verdadeira estrela do show é a inteligência artificial que, ao ser aplicada na arqueologia, tem alterado a forma como analisamos e interpretamos o nosso passado. Desde a análise de pinturas murais em Pompéia até a descoberta de geoglifos no Peru, a IA tem-se mostrado uma ferramenta inestimável na busca pelo conhecimento sobre as civilizações e culturas que nos precederam.

E esse avanço histórico que coloca o homem ombro a ombro com as máquinas representa uma revolução que não temos mais como interromper. E não precisamos ter medo, mas sim tirar proveito do que nós mesmos criamos para aprimorar modelos e olhar para a inteligência artificial como uma grande parceira que pode ser utilizada em diversas situações para simplificar o nosso dia a dia.

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A IA é uma bicicleta para a mente. Mas também pode se comportar como um enxame infinito de motocicletas autônomas e agressivas, que saem atropelando gente por aí. O que ela vai fazer no futuro, bom ou ruim, dependerá de nós. E definir esse caminho não requer muita inteligência, seja natural ou artificial. É só uma questão de bom senso.

Urandir Fernandes é CEO do Ecossistema Dakila, think tank com sede em Mato Grosso do Sul.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]