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Outro dia, uma conhecida jornalista, cansada de ser acusada de esquerdista pelos críticos, definiu-se como uma “liberal democrata”, e quando um leitor pediu algum exemplo de político que representasse tal liberalismo, ela citou Barack Hussein Obama. Para a mesma, não há esquerda nos Estados Unidos. Ela cometeu o erro básico de confundir o “progressismo” cada vez mais radical da esquerda democrata com o bom e velho liberalismo.
Não só o Partido Democrata é de esquerda, apesar de usar o termo “liberal”, como é cada vez mais radical à esquerda. Como foi que isso aconteceu? O liberalismo vem sendo usurpado pela esquerda desde o New Deal de Roosevelt, e quem estuda a política americana sem ser só pelas fontes típicas como CNN e New York Times sabe muito bem que “liberalismo”, hoje, virou sinônimo de esquerdismo.
A revolução foi relativamente silenciosa e gradual, o que explica a ignorância de muitos. Os democratas modernos, que despertam paixão na militância e recebem destaque na imprensa, defendem bandeiras extremistas, como aborto em qualquer fase da gestação, saúde totalmente estatizada, fronteiras escancaradas para qualquer imigrante e até mesmo o socialismo. Se isso não é esquerda radical, então o que é?
Há um crescente desprezo por parte dos democratas por todo o legado da América. Em vez de orgulho pela nação mais próspera e livre do mundo, a esquerda americana, influenciada por gente como Howard Zinn, Oliver Stone e Noam Chomsky, cospe na trajetória americana e enxerga apenas um rastro de injustiças, opressão e patriarcado do “terrível” homem branco. Os democratas viraram antiamericanos!
Não vamos esquecer que Obama pretendia transformar “fundamentalmente” o país. Quem ama não quer mudar a essência; quer no máximo melhorar o que há de errado. Mas para os democratas atuais não há motivos para patriotismo, algo ultrapassado e tacanho frente ao “liberalismo” cosmopolita. Obama é um “cidadão do mundo”, e os Estados Unidos são, para ele, tão especiais quanto qualquer outro país. O grande divisor de águas é sobre a crença ou não na excepcionalidade americana.
Se unirmos a esse sentimento patriótico a crença em Deus e no cristianismo, bastante enraizada na história americana, aí o abismo entre “liberais” e conservadores fica ainda maior. Mas esse abismo é recente, e expõe justamente o quão acelerada foi a revolução democrata, ainda que imperceptível para os mais desatentos.
“Onde quer que a liberdade esteve em perigo, os americanos, com um profundo sentimento patriótico, sempre estiveram dispostos a encarar o Armagedom e desferir um golpe pela liberdade e pelo Senhor”. Essa declaração seria considerada obscurantista e fanática hoje pela maioria dos democratas e jornalistas da mídia mainstream. Essa outra, então, seria pretexto para convocar os homens de branco: “O caráter americano tem sido não só religioso, idealista e patriótico, mas por causa deles tem sido essencialmente individual. O direito do indivíduo contra o Estado sempre foi um dos nossos princípios políticos mais queridos”.
No entanto, ambas as falas foram proferidas pelo ex-presidente John Kennedy. E não só isso, como várias outras mensagens de JFK sobre o papel do governo e da América no mundo seriam consideradas “ultraconservadoras” pelos próprios democratas de hoje.
Seus herdeiros políticos, por exemplo, pregam cada vez mais gastos públicos para resolver todos os problemas. É o “tudo grátis” oferecido de forma populista por Bernie Sanders e companhia. Mas eis o que JFK pensava: “Devemos buscar o equilíbrio orçamental ao longo do ciclo de negócios com excedentes durante os bons tempos mais do que compensando os déficits que podem ser incorridos durante recessões. Sugiro que esta não é uma política fiscal radical. É uma política conservadora”.
Por meio de um relativismo moral exacerbado, os democratas passaram a quebrar todos os tabus e incentivar um comportamento hedonista e indecente, mas eis o que JFK pensava: “Um mundo que lança fora toda moralidade e princípio – todo idealismo sem esperança, se quiser – não é um mundo onde vale a pena viver”. Será que ele ficaria feliz com a ideologia de gênero e a libertinagem promovidos por seus companheiros “liberais”?
Desnecessário dizer que o católico JFK era um anticomunista radical, e que queria eliminar o ditador Fidel Castro, em vez de louvar suas “conquistas”, como faz Bernie Sanders. “Hoje, as forças sinistras do comunismo estão trabalhando duro. O maior baluarte contra a propagação do comunismo é a força das democracias, onde são apreciados os direitos fundamentais da individualidade”, disse Kennedy. Compare isso aos elogios feitos pelo socialista octogenário de Vermont.
Em tempos de Guerra Fria, JFK tinha clareza moral e defendia o legado americano, enquanto Sanders era simpatizante dos soviéticos. Eis o que disse Kennedy: “Esta não é uma luta pela supremacia das armas apenas – é também uma luta pela supremacia entre duas ideologias conflitantes; liberdade sob Deus versus uma implacável tirania sem Deus”. Sanders prefere claramente uma tirania sem Deus!
Os discursos de JFK parecem com os de Reagan ou Thatcher, não os de Obama e certamente não os de Sanders. Ira Stoll, em livro que define o grande ícone democrata como um conservador, conclui: “Os cortes de impostos de Kennedy, sua contenção dos gastos domésticos, a sua preparação militar, sua política econômica pró-crescimento, sua ênfase no livre comércio e num dólar forte, e sua política externa conduzida pela ideia de que a América tinha uma missão dada por Deus para defender a liberdade, tudo faz dele, pelos padrões tanto de seu tempo como de nossa própria época, um conservador”.
Mas o partido de JFK virou o partido de Alexandra Ocasio-Cortez, de Ilhan Omar, de Rashida Tlaib e de Bernie Sanders. Socialismo, ecoterrorismo, anticapitalismo, ateísmo: tudo isso foi se infiltrando no partido, com ajuda da imprensa. E seu maior ícone atual pode ser aquele a disputar com Trump as eleições.
Aí fica mais fácil entender que não é retórica quando Trump afirma que a América jamais será socialista. É a defesa sincera e legítima dos valores americanos, do legado dessa grande nação, que os democratas pretendem dinamitar. Mas, felizmente, não vão conseguir.
Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.