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O brasileiro traz o otimismo em seu DNA, mas quando os números sinalizam um horizonte positivo, esse sentimento ganha novo vigor. E admitamos: precisamos disso. Depois de um 2020 avassalador e um 2021 onde todos precisaram empenhar energia extra para se reconstruir e voltar a crescer, 2022 começou com a economia ainda estagnada no Brasil e previsões cautelosas, indicando um movimento ascendente tímido.
De acordo com análises do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de consultorias, a economia no Brasil deveria crescer pouco mais de 0,5%. Entretanto, o desempenho econômico ao longo do ano vem trazendo perspectivas cada vez mais positivas. A projeção de crescimento do PIB foi novamente revisada para cima, indicando um crescimento de até 2,5% ao ano. Sob uma ótica macroeconômica isso significa que já respiramos melhor e essa melhora, aos poucos, alcançará boa parte da população.
O momento é propício para um balanço da atual situação econômica. Por um lado, temos um conturbado cenário internacional, com uma triste e inesperada guerra entre Rússia e Ucrânia, em que o fim ainda parece estar longe. Soma-se a isso as incertezas inerentes ao ano eleitoral, com disputa polarizada e resultado incerto. Porém, quando nos deparamos com os resultados econômicos começamos a ter motivos para ficarmos mais confiantes.
Um primeiro dado que merece atenção é a geração de empregos. Mais que um extrato socioeconômico, o trabalho afeta diretamente a dignidade e a sobrevivência das pessoas. Então, qualquer melhora nesse pilar é significante. A taxa de desemprego no Brasil, que chegou a 14,8% anuais em 2021, caiu para 9,1% em julho deste ano, o menor patamar para o período desde 2015. Essa é a maior queda no desemprego entre os países do G20. Quando avaliamos o setor da construção, dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicam que no primeiro semestre de 2022 foram gerados 184,7 mil empregos formais, 8% a mais em relação a dezembro de 2021.
Nesse processo de recuperação da economia no Brasil, a construção civil exerce papel fundamental. No segundo trimestre de 2022, o setor cresceu 9,5% em relação ao mesmo período do ano passado. O protagonismo da construção fica ainda mais evidenciado quando consideramos que ele responde por cerca de 10% do total de empregos gerados, 9% de todos os tributos pagos e movimenta 97 atividades produtivas.
Os indicadores setoriais também são animadores. O total de novos imóveis comercializados em 2022 até maio aumentou 26% em relação ao mesmo período de 2021. Novas medidas anunciadas pelo governo para o Programa Casa Verde Amarela vão propiciar melhores condições de financiamento para as famílias de baixa renda e ampliar o acesso a moradia aos mais pobres. Casa própria é um dos sonhos mais presentes na vida das pessoas: representa desenvolvimento social, melhora a qualidade de vida e se traduz em profundo sentimento de segurança. O combate ao déficit habitacional de 7,8 milhões de famílias é, sem dúvida, um grande desafio que o país precisa enfrentar.
Outro ponto positivo é que a inflação começa a dar sinais claros de arrefecimento. O mercado já projeta uma curva futura de juros e inflação em patamares mais baixos, conforme pesquisa realizada pelo Banco Central, no Boletim Focus. Em julho (-068%) e agosto (-0,36%) já foram registradas quedas na inflação mensal, refletindo que o ciclo de alta inflacionária pode estar perto do fim.
Cabe aqui destacar o importante papel desempenhado pelo Banco Central, responsável pela política monetária, que se antecipou, em relação aos principais Bancos Centrais externos, permitindo que possamos ser um dos primeiros países do mundo a controlar a inflação. Precisamos entender que o processo de alta nos preços está ocorrendo globalmente, em função do desordenamento das cadeias produtivas ocorrido durante a pandemia. Mesmo nos EUA e na Inglaterra, a inflação chegou a 9% ao ano. Em países como a Argentina, a alta bateu a impressionante marca dos 71%.
Finalizando, tivemos a melhora na relação dívida bruta/PIB. Depois de preocupantes 90% em dezembro de 2020, em março desse ano recuou para 78%. O controle do gasto público vem se mostrando mais efetivo e o percentual de despesa com pessoal atingiu nesse último trimestre a menor relação dos últimos 30 anos, 3,6% do PIB. A aprovação da Reforma Administrativa, ainda esse ano, seria um passo fundamental para melhorar o equilíbrio fiscal no longo prazo.
Todo esse cenário, ilustrado pelos números relacionados, reforça nossa confiança em um futuro promissor para a economia brasileira. Podemos vislumbrar um ambiente mais favorável aos negócios e investimentos, melhorando o tripé oportunidades, empregos e renda para toda a população. E o setor da construção certamente será um dos grandes protagonistas nesse processo.
Luiz Antônio França é presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC).