Uma deepfake é uma imagem de vídeo em que pessoas reais são copiadas com uso de algoritmos de uma forma tal que mesmo especialistas têm dificuldade de identificar a falsificação. Você pode encontrar inúmeros exemplos de deepfakes em redes sociais, ou em vídeos da internet, geralmente copiando pessoas famosas, como presidentes icônicos e atores.
Essa perfeição será, nas eleições, o verdadeiro problema. Simplesmente porque as pessoas tenderão a acreditar no que vai chegar a elas, no formato de vídeo, por meio de mensagem instantânea, nas vésperas da eleição. Como votar naquele candidato que você viu dizendo, em uma mensagem gravada às escondidas em um voo, que irá cortar determinado programa do qual você depende? Ou naquele outro que aparece sendo flagrado em um momento de pagamento de propina?
Se há um sentido no qual confiamos, é a visão. E acreditamos fortemente que o que nossos olhos veem é verdadeiro. Por isso os mágicos nos encantam e ilusões de ótica nos fascinam. A dificuldade de duvidar será ainda maior quando se tratar de material que chega até você a partir de um número de mensagem instantânea de alguém em que você acredita e confia, transferindo uma pitada a mais de credibilidade ao vídeo a que você está assistindo.
Apelos como “divulgue, pois a rede x vai tirar do ar”, ou a “plataforma y tem interesse que você não veja”, vão ser frequentes, além de levá-lo a reagir positivamente ao vídeo, fazendo de você também um propagador, parte de um golpe contra o livre arbítrio sem que você perceba que está sendo usado.
Dependendo de quão bem articulada for essa ação, o candidato lesado terá dificuldade de descobrir esse movimento. Quando (e se) ele for capaz de identificá-lo, terá de ir ao Judiciário para que os disparos sejam interrompidos, ou o candidato beneficiado seja responsabilizado; porém, se tudo ocorrer nas vésperas do dia da votação, o estrago já estará feito.
Só a educação pode servir de amparo defensivo contra este tipo de ação, o que implica na necessidade estatal de investir neste sentido.
Achar que precedentes dos tribunais superiores serão suficientes para, por exemplo, derrubar uma chapa no futuro envolve acreditar que o processo de achar a origem, provar que os vídeos são falsos e definir quem os originou e com qual intenção será fácil, quando sabemos claramente que não é.
O correto seria, a partir de agora, realizar campanhas informativas para a população, deixando claras as possibilidades de uso de ferramentas de inteligência artificial para ludibriar o eleitor. De preferência, com apresentação de imagens falsas para que se entenda o alcance da ferramenta e a dificuldade de identificá-la. Hoje, só a educação pode servir de amparo defensivo contra este tipo de ação, o que implica na necessidade estatal de investir neste sentido. E o momento ideal será exatamente o mesmo no qual estiver se desenrolando o período eleitoral.
Combater vieses digitais deve ser parte do compromisso de qualquer governo que defenda eleições justas. Mais ainda: deve ser o empenho de todos os cidadãos.
Christiano Sobral, advogado e administrador, é Law Master em Direito Digital, mestre em Estratégia e especialista em Marketing, Finanças, Economia e Negócios.
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