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Opinião 2

Definindo prioridades

No Dia Mundial da Educação, o Brasil vive momento decisivo. Fruto de uma estabilidade político-econômica jamais vivenciada, o país cresce e descortina um futuro promissor para nossas crianças, jovens e adultos que hoje estão em sala de aula. Entretanto, para seguir com sucesso nesta trajetória, é necessário investir na educação muito mais que 7% a 8% do PIB.

É claro que apenas o investimento não resolve todos os problemas estruturais nessa área. Nosso sistema educacional requer libertações e inovações profundas, no que diz respeito a métodos e conteúdo.

A diferença não reside em ser melhor ou pior, mas em ser diferente, e são essas características próprias que devem ser incentivadas. Nossas universidades precisam formar profissionais com capacidade de discernimento e visão colaborativa – não por acaso estas são algumas das principais características da nova liderança.

Em sua obra Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, Edgar Morin defende que a educação deve considerar a existência do "complexo" – quando elementos inseparáveis constituem o todo. Somos compostos por diferentes esferas inerentes a questões políticas, sociais, culturais e psicológicas e, por isso, o ensino do século 21 deve contemplar o desenvolvimento de processos educacionais nessas dimensões.

Assim, o "salto" presente nos mais variados discursos que nos posicionam na 5.ª colocação de economia mundial em 2016 só virá se dermos o merecido destaque à questão educacional como vetor estratégico para a construção de um novo modelo de desenvolvimento com bases sustentáveis. Muito além da linguagem econômica e das divergências sobre a métrica do PIB, o país precisa intensificar a produção, detenção e disseminação de conhecimento e a atenção à inovação.

Outro ponto que merece atenção é a complexa relação entre a academia e o mercado, em que o setor privado precisa assumir seu papel de fomentador de conhecimento e oferecer uma contrapartida maior em pesquisa e desenvolvimento. Assim, construiremos relações integradas entre a academia e o mercado, pois a inovação só se caracteriza como tal quando se torna útil à sociedade.

No documento da Unesco que institui a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, o estímulo aos valores, atitudes e comportamentos na educação da sociedade é colocado como fator decisivo para enfrentar os desafios da pobreza, consumo desordenado, degradação ambiental e decadência urbana. Aos tradicionais Quatro Pilares da Educação desenvolvidos por Delors – aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser – acrescenta-se um quinto, o "saber transformar a si mesmo e a sociedade". É importante desenvolver competências e visão de mundo, em que a educação assume seu papel completo quando desenvolve no indivíduo impactado, a competência de impactar os outros.

Nenhuma mudança estrutural é possível sem educação. Precisamos compreender que esse é um momento único, quando apenas nossa atitude tornará possível a concretização deste novo amanhã que ora se apresenta. Tão importante quanto nossa posição no ranking das economias globais, a educação no Brasil será condição essencial para garantir nossa existência como nação soberana. Se não nos prepararmos agora, corremos o risco de comprometer a consolidação da trajetória para este futuro promissor.

Norman de Paula Arruda Filho, presidente do ISAE/FGV, é coordenador da Força-tarefa de Educação do Pacto Global da ONU no Brasil.

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